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Tenho andado como quem tenta imitar um monge

Persigo um passo de cada vez. Mantenho meu pensamento desapegado das ilusões que um dia ouvi. Faço dos meus dias uma promessa de resistência. Não invento força para negar o que percebo e sigo como quem deixa que tudo vá e se manifeste. Aprendi que não existe quem não tenha provado um pouco de abandono, de tristeza e dor, ao tempo em que sobrevive. Estou seguindo uma convicção que me diz o seguinte: desapegue e não pragueje, apenas caminhe. É uma atitude libertadora e poderosa, aceitar o que tenho de acolher e fazer o que preciso bancar. Sinto como se lambesse minhas feridas sem chorar. Tenho a impressão de que muita coisa que apanhou-me desprevenido tinha alicerce em uma visão fiel e extremamente unilateral. Um erro meu, pois, no fundo, já sabia que havia um padrão. Sim, eu me enganei. E me iludi porque escolhi. Contudo, observar os monges, permitiu que eu pudesse renascer, ainda bem.

Um dia destes ainda fiquei olhando para o céu durante horas seguidas

Tenho passado um tanto de tempo lendo. Refletindo. Anotando. Desenhando. Pintando. Pirogravando. Expondo na rua. Conversando com as pessoas. Fermentando ideias. Levando a vida. Creio que ando na trilha de meu caminho. Um dia destes ainda fiquei olhando para o céu durante horas seguidas, tentando saber o que havia além do azul. Queria descobrir como é aonde não se vê. Enfim, sempre desejo algo novo, que não se pode comprar ou vender. Sinto que permaneço vivo. E ao tempo em que tento contribuir para com meu redor, descubro que me fortaleço e me mantenho evoluindo. Sem cobranças e na ausência de qualquer pressa encontro paz. Faço da arte meu refúgio, como quem entende que nosso dia é algo precioso e não pode ser desperdiçado com o que não promove levezas. A consciência é algo que me parece em afinidade com silêncios longos e palavras e ações pontuais. Ando em busca de saberes que ainda não tenho. Trocando algo aqui e ali pelos bancos das praças. Vejo a rua como casa e muitos como irmãos. ...

Estou em paz

Ando em dois mundos e agora estou distante da mata mais verde que já vi O vento castiga minha face e afaga um varal colorido que tremula Sinto que minha alma revive O cheiro do monóxido de carbono carimba meu pulmão E um pássaro canta no alto de uma árvore Contudo, sem asas, porém, também divino, um mano desconhecido corre o olho pelo trampo Sei que a calçada me abriga desde muito jovem Seja palavra Seja tinta Seja madeira Seja ferro, fogo ou brasa O que mais importa é ser Ser como se nasceu Honesto consigo e o mundo em nossa volta E ao tempo em que me sirvo da situação e anoto, estou em paz comigo mesmo Estou livre Estou participando da mudança Estou em casa Estou na rua Estou esparramando um tanto do que brota em meu coração E olhando o varal e coringando o pano, sei que ando em dois mundos Com os mesmos pés O mesmo espírito A mesma alma E a mesma satisfação de ser

A arte me parece um jeito de resistir ao lado do conhecimento

Ler como quem procura janelas abertas para arejar o ambiente mental e físico. Creio que a filosofia da busca pelo equilíbrio enobrece as anotações. Vejo as plantas crescendo. A madeira sendo coberta pelo traço do pirógrafo e a tinta. A lenha queima na lareira ao tempo em que a rocha torna-se um baluarte encantador e próspero. É como se o segredo pudesse preservar o futuro e o sossego.
"Se não mudamos as nossas atitudes não podemos mudar o que acontece."

Acordo todo dia no mesmo mundo cão

Saio para levar o lixo até o contêiner. O tempo está carregado e vem mais chuva e mais desgraça e isso está me atormentando. Tem um vento frio que se parece com o que sopra no inverno. Alguns pássaros cantam ao tempo em que motoristas afoitos buzinam e gesticulam uns para os outros sempre que dois ou três carros se encontram em uma esquina. Logo vejo dois cães que me cercam e começam a latir. São os mesmos de todos os dias. Agora, manter os próprios cachorros na rua como se estivessem em área privada é o novo normal. Aliás, não aguento mais essa teoria de o novo normal para tudo, como se o mundo houvesse virado de cabeça para baixo. Em pouco tempo escuto rosnadas, olho firme para um deles e digo em alto e bom som: se tu te bobear vou ter de te chamar na pedra. O cão pressente que existe algo de diabólico comigo e hesita. Largo o lixo para dentro do contêiner e em dois segundos tenho quatro pedras em minhas mãos. O canino, incrédulo, ainda me olha e eu olho para ele. Lá pelas tantas v...

As plantas estão lindas

Fazer bonsai “demora”. A gente aprende a compreender o tempo de outra maneira. A natureza tem o seu andamento. E nada tem a ver com a pressa. Ouço muita coisa sobre o assunto. Porém, me manifesto pouco a respeito, pois, aprendi que o cultivo é o melhor caminho para formar uma árvore magnífica. Acho que a vida é feita de escolhas. E, ao tempo em que muitos se denominam como sendo bonsaístas, eu prefiro ser apenas um alquimista.