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Mammalia - mamíferos que leem

Recentemente lancei um sebo de livros com o nome de Mammalia. E estou muito feliz porque desta vez criei uma marca totalmente analógica. Sim, meu objetivo é manter contato direto com as pessoas e não depender de grandes corporações para fazer a divulgação do projeto. A ideia é ganhar mais liberdade e realizar restauração e customização de livros em alto padrão para leitores. Portanto, não podia estrear em uma oportunidade melhor do que em um evento cultural. Para saber como foi o lançamento deste selo, acompanhe a resenha publicada no site da Editora Os Dez Melhores .

Sem tempo, sem atenção e sem futuro

Quem dera eu não escrevesse esta crônica. Contudo, não posso deixar de observar o que vejo. E, principalmente, não tenho como escapar de contar sobre o que ouço das pessoas mais inteligentes que conheço quase que diariamente: “estamos perdidos”. Sou de um tempo em que um livro de 300 páginas era um texto de tamanho médio e que se lia em no máximo duas semanas, porque afinal de contas todo mundo trabalhava e tinha de ler em horários livres. Todos engraxavam seus sapatos, lavavam sua roupa, cortavam sua grama e faziam seu mercado etc. É um tempo que ficou no passado, mas que ainda é latente em minha memória. Uma memória de elefante, como diz um amigo que preso muito. Enfim, em contraponto ao passado de uma comunidade analógica, na qual era comum que se soubesse fazer contas básicas, escrever pequenos bilhetes e dar o próprio endereço para alguém que tinha o desejo de nos enviar uma carta vez ou outra durante o ano, chegamos ao mundo de hoje. Um mundo moderno, cheio de tecnologia e de inf

Faz um bom tempo que escrevo em cadernos

É um hábito que tenho desde os tempos de criança. Gosto de ter certa privacidade. É por isso que costumo criar códigos e usá-los para garantir que meus textos não serão desvendados sem meu consentimento. Sou avesso a invasões e não permito que nada e nem ninguém me vigie ou me controle. Costumo dizer que sempre tive um coração selvagem para governar a minha mente. E tenho a mais absoluta certeza de que isso é extremamente positivo em minha vida. Eu nunca me submeti ao mundo como ele é e preferi uma vida integrada com a natureza e a liberdade. Enquanto artista tenho ideia de que o meu trabalho tem valor. E tenho comigo uma máxima: você compra, lê e depois você tem o direito de gostar ou não. Não sou do tipo que acha que popularidade põe a mesa. E creio que expressar meus escritos em publicações (artesanais ou não) é um grande feito. Não acho que um autor deva expor o seu trabalho de maneira gratuita em demasia. Afinal, se tudo é pago, que o meu texto seja comprado também. Você não vê um

Uma proposta orgânica e sustentável

Há dias que eu queria postar este texto, mas andei corrido nos últimos tempos, pois estava embrenhado por entre as matas da região, instalando minhocários, em propriedades rurais, com interesse em soluções orgânicas e sustentáveis. Entre tantas coisas, que chamaram minha atenção, destaco a importância de projetos agroflorestais em nossa cadeia produtiva. Percebi que em áreas preservadas e avessas ao uso de agrotóxicos, encontra-se todo tipo de flora e fauna. Estas propriedades tornam-se ilhas agroecológicas que funcionam como refúgio e banco reprodutor de estimável impacto em nossa biodiversidade. Encontrei solos férteis e cheios de vida, florestas exuberantes e bem adaptadas a todo tipo de cultivo. Lugares em que o ciclo natural se cumpre de maneira eficiente, elevando a rentabilidade, baixando os custos de produção e totalmente harmonizados com o meio ambiente e o homem. Abelha, Jacu, lebre, cervo, tatu, guajuvira, pitangueira, nogueira, angico, bananeira, entre tantos outros seres

O sistema é cabuloso e trabalha o tempo todo para te enrolar de um jeito ou de outro.

Plataformas sociais estão perdendo a medida

O controle de seus usuários é cada vez mais intenso. A captação de dados e informações pessoais, assim como a venda dos mesmos, se torna mais elevada corriqueiramente. Os conteúdos estão perdendo energia e aos poucos tudo se divide entre futilidade, compra e venda ou agressão. Envoltos pela ideologia de que tomar um café e postar tal foto tornou-se propaganda em prol do usuário, não se percebe o que está sendo implantado como novas diretrizes para um comportamento moderno. E, abusando de meu romantismo, o objetivo inicial, me parece que era tornar ideias e posts públicos e proporcionar contato entre pessoas. Contudo, tornou-se outro caso. Pois, algoritmos impedem que se divulgue qualquer coisa com certo alcance. Tudo é pago. A publicidade morreu e agora tudo é propaganda ou marketing. Estamos submetidos a um descabido senso de ganância por parte de muitos empresários do ramo digital que agem como se a vida se resumisse a um negócio envolvendo notas de 100. Nossas contas tornaram-

Tem muita gente mudando de vida

É um tempo de renovação. Minha percepção se justifica com base no que vejo e ouço dentro e fora da internet. Escuto pessoas falando em levar uma vida minimalista; em viver longe de ambientes tóxicos; vejo gente se interessando pelo anonimato que cabe aos atores sociais que escolhem conscientemente a realidade como sendo o palco para suas vivências e memórias. Percebo a necessidade individual e coletiva de conectar-se com o que é organicamente vivo. Menos ganância; mais afeto; e o desejo genuíno de exercer sua individualidade coletivamente. Acho que muitos estão dispostos a tornarem-se seres humanos reais ao invés de um simples avatar que vive do impalpável e de um sucesso que não se materializa em necessidades satisfeitas no mundo real. Creio que nunca existiu tantos mensageiros interessados em contribuir para uma sociedade mais humana e mais justa. E, como muitos deles dizem: estamos evoluindo. Acho que a mensagem que chega aos nossos ouvidos é a ideia de que nada é estagnado e qu

Sobre o campo das ideias e o nosso comportamento

É comum que falemos a respeito de assuntos diversos, quando nos reunimos entre amigos ou grupos. E, nos tempos de hoje, o uso de aplicativos para comunicação de pessoas tornaram-se uma espécie de sala para conversarmos e trocarmos ideias e informações. De modo que, nem sempre precisamos estarmos presentes fisicamente para dialogarmos uns com os outros. E, nos últimos tempos, a internet tornou-se mais presente em minha vida, após um período de isolamento. Queria desintoxicar, entende? Enfim, agora, retornando ao convívio social, seja presencial ou virtual — e bem longe de ambientes e redes tóxicas em demasia —, um recorte me chamou atenção, por conta do grande número de pessoas, que suscitaram o debate a respeito da necessidade de mudança individual em prol do nosso crescimento enquanto sociedade. As opiniões são vastas e os apontamentos, também. Assim sendo, entre uma conversa e outra, procuro expor minhas ideias, sem dizer o que o outro deve fazer. E, tenho notado, que minhas co

A espera

Observei o alvo durante uma semana. Saber esperar é uma grande virtude. Eu fumava um palheiro e mantinha o rifle em posição para que pudesse acompanhar a situação de perto. A distância que tinha era de 682 m. Lá pelas tantas, o encomendado apareceu. O vento estava como devia. E avaliando a distância e todos os elementos possíveis, sabia que o momento era favorável. Respirei fundo e não me apressei. Notei que havia movimento nos fundos da casa. Não demorou e a caminhonete saiu lotada de gente. Por garantia, observei, com muita atenção, o semblante de cada um dos que estavam no veículo. O confiado estava sozinho. Fiquei ali, contando os instantes. E, quando o instinto me disse que era chegada a hora, firmei a mira bem no meio do pescoço. Na altura do gogó, como se diz. Foi um tiro certeiro. No compasso de meu coração. A cabeça de um lado, o corpo do outro, como sempre. Guardei o rifle na encilha e montei. Em pouco mais de duas horas estava sumido, feito um fiapo de fumaça.

À porta do céu

À véspera do entardecer de um dia qualquer, meu corpo vaga, minha mente vaga e meu espírito vaga, em uma infinita caminhada à procura de tudo e de nada Lembro-me de espantar-me com uma visão bucólica em tal dia ensolarado, ao tempo em que a relva doce e desconhecida e extraordinária me apanha e me arrebata de fora para dentro e de dentro para fora Sinto o cheiro da terra, que fora transformada em poeira, por conta de um vento indolente e que tornara-se redemoinho, em meio a estrada recoberta pelas folhas da mata que me rodeia Ao mirar adiante, percebo a leve e longa elevação do terreno, que me conduz a um ponto um tanto quanto mais alto e que culmina em um alvo infinito a imortalizar, em um único instante, um beijo doce e terno entre o céu e a terra e que desvenda-se diante de meu ser como se os dois fossem feitos um para o outro Alegro-me com tamanha benção e tomo a decisão de esticar a lona bem ao alcance do abraço de um grande Angico, que me proporciona um pouso seguro e ser

Aprender e ensinar são ocupações para toda vida

Esta crônica é a de número 200 aqui no blog. Nos últimos tempos tenho centralizado minhas postagens neste canal e me alegra perceber que existe uma boa quantidade de conteúdo postado. Espero que esta plataforma nunca se torne obsoleta e que eu possa manter este espaço com o máximo de textos ao longo da vida. Tenho curiosidade, inclusive, de saber quantos conseguirei postar até o fim de minha jornada neste planeta. E, após uma breve abertura, vamos ao assunto do dia. É bem verdade, que aprender e ensinar são ocupações para toda vida. Explico a situação. O saber é respectivo a tudo. Compreende desde as tarefas mais simples até as mais complexas. É preciso tempo tanto para aprender quanto para ensinar. Ninguém aprende nada e ninguém ensina nada enquanto se passa em alta velocidade pelas lições. Para lavar a louça, existe um método e vários detalhes. Para pintar uma casa, igualmente. Para cortar uma grama. Para varrer o chão. Para confeccionar um livro. Para plantar uma horta. Portanto

Ao final do dia

Ateio fogo em uma vela, que ilumina a recente penumbra e vejo tons amarelados, resplandecentes e aureados de minha pobre e bela alma, os quais, surgem em meio ao silêncio de meus devaneios Anoto o que vejo e sinto como quem reza para o sem fim de seu próprio âmago, em meio à loucura da insana liberdade, ao modo de quem se recusa a tornar-se parte de um suplício sem fim, que transforma homens em cães adestrados a correrem atrás do próprio rabo em busca de um futuro conforto chamado sonho gentil e que depois de carcomer espíritos — ainda livres — os transforma em nada mais do que carcaças de ratos secos e mortos e esquecidos Insurgente, faço versos e preencho linhas de um caderno que carrego em meu bolso, muito bem acomodado sobre o peito e que soterra meu coração ao tempo em que dou vida à minha alma tão estranha ao escravagismo moderno deste mundo manipulado que não me alcança Sou infame Sou poeta Sou palavra e blasfêmia Sou o fim do calvário e o raio simples e puro de uma