Enquanto brasileiros, temos uma missão:
respeitar os povos indígenas. E para começarmos a colocar tal ideia em prática
é preciso analisar alguns pontos relativos ao que tange a União e a nossa
realidade nacional. Porém, é impossível respeitar um povo ou uma nação que não
tem poder de escolha. Porque o respeito começa, quando se pode escolher. Os
povos indígenas têm uma cultura, uma fé, uma estrutura social definida. Os
indígenas não precisam de nada externo, antes de tudo, porque são um povo. O
indígena tem alma. Tem um coração. Tem um cérebro. Tem capacidade.
Eu pergunto: os indígenas são os donos do
Brasil? Sim, são. Contudo, o Brasil é grande. Tem lugar para todo mundo. É como
pensa um indígena. É como pensa um Cacique. No entanto, acredito que a União deva
pensar do mesmo jeito. O nosso Estado/União, se interessa pelo controle da
nação e pela arrecadação, ao tempo em que diz que garante o bem-estar social de
seu povo. Isso inclui os indígenas, também, porém o Estado nunca atende ao seu
povo, mesmo sem abrir mão de controlar as leis e a arrecadação. Seja por falta
de verba ou de equipe qualificada, seja lá pelo motivo que for: uma
justificativa, sempre existe.
Uma reserva indígena precisa de uma grande
extensão para que a flora e a fauna possam desenvolver-se e se possa explorá-la
com caça e coleta. Um predador, como uma onça, por exemplo, em que a sua
presença denota excelência de preservação, necessita de mais ou menos 400 km²
para manter-se e criar sua família. Isso porque o animal tem de se deslocar para
garantir o abate de suas presas. Assim como a gente, os animais também tem
senso de sobrevivência e necessidades. Isso inclui a onça que caça e o animal
que é presa da pintada e que também se movimenta em busca de salvar o próprio
pescoço e seus filhotes.
Sendo assim, mesmo que uma reserva indígena
tenha uma grande extensão, ela não se autogere independente do que a cerca. Uma
reserva ambiental também necessita de um cinturão em sua volta. O rio corre e
se desloca. O rio tem uma nascente. E carrega com ele tudo que se depositar na
terra. De modo que a exploração agrícola e a preservação ambiental sempre
entrarão em choque sem um projeto adequado. Sim, reservas ambientais e produção
de alimentos, são como a gente, precisam de equilíbrio e de ações complementares
para que se possa garantir o êxito.
De tal modo, o índio precisa ter o direito de
escolher. Num primeiro instante, é preciso saber, que um indígena se interessa
pelo lugar onde o seu ancestral está enterrado. Para os indígenas, os velhos e
as crianças são o que há de mais caro no mundo. É preciso entender, onde é
sagrado, e aonde não é. Uma aldeia é como uma igreja, e se a fé do outro
precisa de respeito, a fé do índio precisa da mesma coisa.
A partir do momento em que isso é um consenso
é necessária a demarcação da terra. E nesse momento, quem for removido, precisa
receber a correta indenização e o devido amparo do Estado/União que é quem
manda em tudo, quem fica com o dinheiro, e quem prefere cozinhar as coisas em
banho-maria como se fala e joga o agricultor, grande ou pequeno, contra o índio
e vice-versa, quando na verdade, o único filho da mãe nessa história é a União.
Que primeiro invadiu o que não era seu e depois vendeu o que não podia vender,
e que agora se embasbaca porque quem compra não pode perder tudo e o Estado só
tem dinheiro quando é para aumentar privilégio de político. Fazer isso: é
encontrar o equilíbrio para observar uma causa como pacificador e não como um
explorador. Isso é ter respeito e dar valor à palavra dada. É ter empatia. É
fazer justiça e manter a barba fora da lama, como se diz.
No mais, o indígena pode ser um caçador. Pode
ser um agricultor. Pode ser professor. Pode ser Pajé. Pode ter celular e
internet. Pode ser empresário. Pode conhecer outros países. Pode ser eloquente.
Pode ser militar. Pode ser artesão. Pode ser artista. Pode ser funcionário
público, pode ser o que ele quiser. Eu sempre digo que lugar de índio é aonde
ele quiser. O índio é gente! É brasileiro. Tem muito a aprender e tem muito a
ensinar. Um índio tem muito para somar com esse país. Um índio tem voz. Um
índio existe e não pode se desmaterializar. Um índio, também, tem de ter
direitos. Um índio tem de ter o poder de escolher.
Toda aldeia tem um Cacique. Alguém, que assim
como eu e você, tem esta e aquela alternativa em mãos e todo um futuro para
decidir. Isso envolve gente! Gente como a gente! Então, o Cacique vai
representar a sua aldeia e dizer, se prefere explorar a terra dentro da
agropecuária ou dentro de uma reserva ambiental, dentro da lei da União, claro,
mas uma lei que beneficie a todos e não uma lei que promove embate. Está no
momento do Estado que representa a voz dos brasileiros decidir, “se vai dar
condições dignas de vida para os indígenas ou se prefere que as aldeias sejam
autossuficientes”. O que não dá, é para querer o controle e a arrecadação e
negar a responsabilidade para com a República Federativa do Brasil e seus
cidadãos.
E para encerrar, digo aos jornalistas deste
país, desativem estereótipos de suas mentes, deem um microfone para um Cacique
e façam uma entrevista com ele, mas quando entrarem na aldeia, sejam honestos.
Perguntem. Escutem. Anotem e publiquem a verdade. E por fim, sejam humanos. Uma
aldeia, não é um zoológico, tampouco uma oportunidade para lucrar, seja com
dinheiro ou rebuliço.