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O cotovelo do Milo


Para que você compreenda este texto, Milo é um nome fictício que estou dando para um filósofo que se diz de esquerda, mas que certamente não é de esquerda, e que tem um canal no you tube. Alguns de seus seguidores o comparam ao Millôr Fernandes, com o objetivo de elogiar seus aforismos. Meu objetivo não é atacar o indivíduo, tampouco a esquerda, desejo apenas contrapor a postura de Milo. Tomo este cuidado porque tudo que motiva esta minha crônica e esta decisão tem relação com detalhes que no decorrer do texto tentarei elucidar com precisão.
De uns tempos pra cá, eu que sou de esquerda e sempre serei, andei acompanhando mais de perto alguns canais no you tube que abordam como temática a política, até por conta da quarentena. Confesso que prefiro ler ao invés de assistir vídeos, mas dei um voto de confiança porque vi muitas pessoas elogiando o Milo, fiquei curioso e fui pesquisar. Vi muitos de seus vídeos e embora seja possível perceber que o canal possui muitos seguidores e que o Milo tem mesmo muito conhecimento, também é inevitável dizer que me decepcionei e cancelei minha inscrição.
Bem, o Milo diz que seu objetivo é promover eleitores reflexivos. Entre tantas coisas ele desconsidera muitas necessidades de pautas vinculadas com minorias, por exemplo, e também costuma dar apelidos pejorativos a outros you tuber’s mais novos do que ele, mas que tem um número maior de seguidores e que dão ênfase em tais questões entre outras. Ele inclusive ironiza os demais dizendo que eles não têm profissão e que também não tem nenhuma publicação de respeito e que por isso fizeram um canal no you tube, ao contrário dele que é professor, escritor e colunista de calibre nacional.
Você pode estar se perguntando o que me motivou a escrever sobre isso? Bem, escrevo sobre tal assunto porque quando vejo uma pessoa erudita se deixando levar pelo ego e contribuindo para com todo tipo de postura desnecessária, fico pensando como explicar uma coisa dessas e não tenho resposta. Ao menos que seja erudita. E tentando ser o mais erudito possível tomei a decisão de chamá-lo de Milo.
Então, como o Milo mete os pés pelas mãos seguidamente, o mesmo fez um vídeo se defendendo e leu seus aforismos presentes em um de seus livros que foi publicado por uma grande editora. Entre tantas explicações estapafúrdias, estabeleceu relações entre o aforismo filosófico e o aforismo que os escritores de ficção fazem. Acho que nem preciso prosseguir, não é mesmo? Como é que a filosofia ou o debate político podem ser comparados com obras de ficção? Um livro de ficção pode ambientar questões filosóficas e políticas, mas não é na aula de literatura que se estuda filosofia ou mesmo ciência política. Tudo tem seu tempo e seu momento, seu dever.
Na minha visão, é este tipo de coisa que fode com a gente num todo e que tira da literatura tudo que se pode imaginar, mas que não precisa ser. Meu prisma é este, de que maneira vamos colocar na literatura de ficção a obrigação de educar? Obviamente que a literatura não deve incentivar ideologias destrutivas, mas se pode utilizar um personagem negativo dentro de um enredo para contextualizar uma mensagem de bom tom. Sendo bem objetivo, porque este texto já está longo demais, acho que um bom palavrão na hora certa pode compor uma grande obra de ficção, mas não acredito que um palavrão fora de oportunidade possa compor filosofia e política enquanto ciência.
Tenho a mais absoluta certeza de que é possível perceber o cuidado que tomei no momento de escrever esta crônica opinativa e que não é ficção. Fica clara minha intenção em discutir uma postura e não um indivíduo. Porém, é inevitável dizer algo mais. O Milo é uma velhota que vai na igreja e coloca veneno para passarinho. O Milo é ressentido, porque a molecada que aprendeu escrever com ele, queria honrá-lo e cometeu o pecado de escrever com todas as suas forças e chegou lá.

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