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Eu e o tempo (em algum lugar entre o tempo e o nosso tempo)

Esta é uma reflexão profunda. Através da qual, pretendo ligar muitos pontos. E estabelecer uma linha de raciocínio a partir de minhas experiências e inquietações. Espero cumprir meu objetivo da melhor forma possível. A ideia é escrever sem prestar atenção no tamanho do texto. Quando escrevemos em tom intimista e confessional, não se pode atropelar o desenrolar dos fatos imprescindíveis a uma relação mais próxima e mais honesta. Afinal de contas, não se lê com pressa, assim como não se escreve com pressa. Em meu modo de ver, o ato de viver com mais qualidade de vida está diretamente ligado à nossa disponibilidade de tempo e o cultivo das humanidades.

Tenho lido muito nos últimos dias. Sinto que aos poucos estou conseguindo organizar meu tempo em relação aos afazeres do cotidiano e voltar a ler uma média de 4 livros mensais. Espero manter essa marca, embora saiba da dificuldade que envolve minha aspiração. Há três anos que me divido entre o trabalho com literatura e meu minhocário. E o dia tem 24h. É preciso saber que tudo tem seu momento e tempo. Por mais estranho que pareça, as duas coisas estão muito bem interligadas em minha vida e me fazem muito bem. Elas afagam minha consciência tranquila.

Tudo começou quando senti que deveria fazer algo mais contundente no campo da ecologia. O clima denota que precisamos cuidar melhor do planeta. E transformar resíduos em adubo orgânico me pareceu uma boa ideia. Tinha em mente que deveria fazer algo dentro de uma escala que pudesse dar conta. Afinal, aos poucos se faz muito. Os primeiros anos foram difíceis, mas, como tudo na vida, as coisas estão se ajeitando com o tempo e o planejamento. Depois de três anos consegui montar um ecossistema extremamente viável.

É um processo totalmente renovável e autossuficiente. Conforme vou aprendendo e me organizando, devagar e sempre, o tempo começa a apresentar-se mais amigo. Tenho conseguido ler com maior assiduidade, como fazia antes de envolver-me com permacultura. Eu tinha de escolher, não havia como ler, revisar, escrever e ainda montar um ecossistema para a transformação dos resíduos. Seria loucura pensar o contrário e quando pesei as situações em minha balança tive de abrir mão de muitas leituras. Passei a ler um livro ao mês a pau e corda, como se diz. Algo que não me agradou, claro, mas que entendi que era preciso. Foi assim que consegui lidar com a situação de uma maneira positiva.

Dentro de tal contexto, há muito tempo que Aílton Krenak chamava minha atenção. Mas, eu ainda não havia lido nenhuma obra dele. Embora, já houvesse tido contato com muitas de suas ideias. Contudo, nessa semana que passou, tive o prazer de encontrar-me com uma de suas obras “Ideias para adiar o fim do mundo”. E o que achei ao ler seu texto deixou-me muito contente.

Percebi que a ideia de cuidar do planeta nos aproxima enquanto humanos interessados em colaborar com a natureza. Entre tantas ideias que considero bacanas no livro está presente a de que somos todos humanos e de que existe pluralidade. O autor faz uma análise extremamente pertinente entre ser cliente e cidadão. E encontrar alguém falando em humanidade em tempos atuais é até emocionante. O povo Krenak conversa com a natureza. A montanha. As pedras. A cosmovisão é de inclusão. E talvez seja esse o grande diferencial do autor em sua obra, a capacidade de interagir com os seres naturais.

O texto é muito bem construído. Faz um alerta a respeito do esgotamento dos recursos naturais. As provocações abordam o modelo de vida consumista. Nem sempre se pensa em como o leite vai parar dentro de uma caixa com logotipo e tudo, por exemplo. Não existe mágica sem custo ecológico. Nossa permanência no planeta se torna mais comprometida a cada dia. Colocamos logotipo em tudo. Até em um rio para transformá-lo em recurso natural. Como se o mesmo não fosse um recurso natural desde sempre. E depois que o matamos também matamos quem vive próximo a ele.

Ter contato com uma palavra centrada é muito importante em todos os momentos. Senti como se houvesse encontrado uma boa dose de luz para que pudesse renovar minhas esperanças em minha própria humanidade. A palavra tem o poder de gerar conforto interior, em minha ótica. Digo sempre que a arte é o que me manteve vivo durante todo esse tempo. Por sinal, faço 43, agora, dia 29. É um bom tempo, embora diga desde já que vou viver até os 136 anos. Sei que é um projeto audacioso, mas a ideia de afinar-me com o tempo me agrada.

Quero ler, revisar, escrever e cuidar do planeta e das pessoas da melhor maneira que puder. Quero cultivar as humanidades e os âmagos. Amar é revolucionário em 2021. O mundo moderno é tóxico, não só para o planeta, mas também para nossa humanidade. Sinto necessidade de me manter orgânico e sadio. Quero conversar com as minhocas. Com a grama. Com as plantas e com as pedras. Quero falar com a natureza e viver como um humano sem logotipo.

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