Não há como escolher uma reunião
dançante para a tarde de sábado sem aborrecimentos e Fausto Wolff já nos deu
uma boa canja sobre isso. Também posso citar Krenak, que já avisou: quando um
indivíduo ganha um logotipo, quem acaba aparelhado não é o povo. Acho que é uma
boa verdade para seguir. Vejo muita gente lutando uma guerra ilusória para o
todo e bem afinada com os próprios interesses. Quem está bem habituado dentro
de um logotipo costuma acumular ao invés de repartir. É preciso ter ciência de
que quando a gente se vê com uma bandeira nas mãos nos afastamos da sociedade
civil e nos aproximamos das reuniões dançantes que normalmente acontecem em
algum espaço com um logotipo no alto da porta. O que posso dizer sobre portas é
que elas costumam impedir a entrada dos civis. Afinal de contas,
historicamente, quem fica do lado de fora é o povo, enquanto alguém o
representa lá dentro. O povo quer um parceiro para desenvolver a comunidade. Já
o ativista, que aceita uma roupa de “assessor”, precisa de uma reunião dançante
para frequentar e pleitear interesses em comum com os seus logotipos
preferidos.
Saio para levar o lixo até o contêiner. O tempo está carregado e vem mais chuva e mais desgraça e isso está me atormentando. Tem um vento frio que se parece com o que sopra no inverno. Alguns pássaros cantam ao tempo em que motoristas afoitos buzinam e gesticulam uns para os outros sempre que dois ou três carros se encontram em uma esquina. Logo vejo dois cães que me cercam e começam a latir. São os mesmos de todos os dias. Agora, manter os próprios cachorros na rua como se estivessem em área privada é o novo normal. Aliás, não aguento mais essa teoria de o novo normal para tudo, como se o mundo houvesse virado de cabeça para baixo. Em pouco tempo escuto rosnadas, olho firme para um deles e digo em alto e bom som: se tu te bobear vou ter de te chamar na pedra. O cão pressente que existe algo de diabólico comigo e hesita. Largo o lixo para dentro do contêiner e em dois segundos tenho quatro pedras em minhas mãos. O canino, incrédulo, ainda me olha e eu olho para ele. Lá pelas tantas v...