O domingo foi louco. Os cachorros
latiam sem parar ao tempo em que motos voavam pela rua e zuniam em nossos
ouvidos. Fiz o melhor que pude para acalmar meus irmãos peludos; mas, como
disse: foi um dia louco e quando a tardinha chegou eu precisava de um bom
banho. A água quente aqueceu minha carcaça velha e tão logo sentei no sofá e
liguei a TV esbarrei no soldado Ryan. Fiquei me perguntando sobre o que se pode
dizer para uma mãe que perde todos os seus filhos em uma guerra? — enquanto assistia
ao grupo de soldados em busca de Ryan, o único filho ainda vivo, também me
perguntei — o que se pode dizer para uma mãe que perdeu um filho na guerra? A perseverança
leva o grupo de busca até o soldado Ryan e o encontra na cabeceira de uma
ponte. Ele e seus colegas de batalhão esperavam por reforços e além de pouco
armamento, também estavam com pouca munição. Quando Ryan é informado de que
todos os seus irmãos haviam morrido em combate e que as ordens eram para que
ele seguisse para casa, o mesmo se nega e pede ao capitão que avisasse sua mãe de
que ele ficaria para lutar junto dos únicos irmãos que lhe restaram. A partir
daí, eu me perguntei, por que ficar? A batalha desenrola e depois de muito
sacrifício e dificuldade, Ryan e alguns poucos homens conseguem sobreviver. Porém,
Ryan tem uma missão: merecer o sacrifício dos que morreram. Ao fim do filme, O
Resgate do Soldado Ryan, fiquei pensando em porquê o mundo é um lugar assim,
tão louco?
Ando em dois mundos e agora estou distante da mata mais verde que já vi O vento castiga minha face e afaga um varal colorido que tremula Sinto que minha alma revive O cheiro do monóxido de carbono carimba meu pulmão E um pássaro canta no alto de uma árvore Contudo, sem asas, porém, também divino, um mano desconhecido corre o olho pelo trampo Sei que a calçada me abriga desde muito jovem Seja palavra Seja tinta Seja madeira Seja ferro, fogo ou brasa O que mais importa é ser Ser como se nasceu Honesto consigo e o mundo em nossa volta E ao tempo em que me sirvo da situação e anoto, estou em paz comigo mesmo Estou livre Estou participando da mudança Estou em casa Estou na rua Estou esparramando um tanto do que brota em meu coração E olhando o varal e coringando o pano, sei que ando em dois mundos Com os mesmos pés O mesmo espírito A mesma alma E a mesma satisfação de ser