Queria ter sorte. É isso mesmo. Queria ter sorte mesmo que fosse por um único segundo. Era esse o pensamento que me consumia naquele instante. Tudo que procurei durante uma vida inteira foi a paz. E paz, sempre me soou como sorte, entende? Passei boa parte de minha vida calado, deitado, lendo ou escrevendo textos para colocar dentro de minha gaveta. A outra parte, a qual é quase todo o resto dela, passei fazendo hambúrgueres para o Tom. O Tom era dono da “Tom Lanches”, uma espelunca que ficava no subúrbio. Era eu quem abria a lancheria todo dia. Sempre que chegava, encontrava o Bóris, o cão que o Tom deixava amarrado na porta da lancheria para que a bandidagem não levasse embora tudo que havia lá dentro. E esse sempre foi um dos meus melhores instantes nessa vida, pois ele, o cão, me olhava com olhos tristes e amorosos ao mesmo tempo. Acho que ele pensava em algo que eu pensava também, só que eu não descobria o que era. E, enquanto eu fazia hambúrgueres, esse tipo de coisa rondava os
Literatura, arte e conhecimento