o sol bate em meu corpo
e o que vejo ao meu redor
é uma imensa estepe
cruzada por vários rios
e vales
e os melhores cavalos
de que já ouvi falar
o meu avô sempre disse
que essa planície
é sagrada
e por isso
eu cresci ouvindo todo tipo
de fábula a respeito
desse chão
eu sou um homem
livre no lombo de um cavalo
eu ganhei um arco que canta
e um laço de 12 braças
e os dois são feitos
para guardar o nosso coração
e proteger um semelhante
eu sou um homem
de dois mundos
eu tive a chance de escolher
o que fazer de minha vida
e sempre me senti
como alguém
que carregava um coração selvagem
para comandar a minha cabeça
e fiz o que sentia vontade
eu sempre fiz minhas escolhas
e por conta delas
em meus ouvidos
sopraram
mensagens de força e paz
era a lei do arco
e a lei do arco
é uma canção
para um homem de bom coração
e os mais velhos
disseram-me que devia colar
a minha orelha ao campo nativo
para que ressoasse em minha alma
as batidas dos cascos dos cavalos
e meu coração pudesse falar
com minha mente
e disseram-me também
que um homem sábio
fica em silêncio durante muito tempo
para que possa ouvir as brasas
que consomem a angústia
e mais
disseram-me ainda
que a liberdade é a paz
e que ter um queixo de cavalo é a nossa busca
eu ouvi muitas coisas durante a minha vida
e ao prestar atenção em uma corrente de ar
percebi que o revoar do vento
nada mais é do que o balanço das asas
de uma grande águia
sobre o cume da montanha
e por isso
enterro-me na rocha
na esperança de renascer
e mais uma vez
lutar
pelo amanhã
eu tenho a palavra
eu tenho meus olhos
eu escuto o trovão
e vejo o raio
eu ouço o disparo da flecha
e vejo a luz
eu sou o cavalo
eu sou a águia
eu sou o amparo
e a sorte
da oca ao lado
eu vejo o sol
a lua e a estepe
eu sou um abençoado
pois as minhas escolhas
trouxeram-me até a brisa
só para ganhar
um afago
do grande Tupã