Quando Tody não aguentava mais, saía pela rua
sem qualquer plano. Pegava sua faca, atocaiava-se e, simplesmente, esperava
pela sorte.
Ele sentia dores de cabeça aguda e palpitações
coronárias. E tudo que ele queria era alívio para sua cachola e seu peito. Um
dia para que sua cabeça não doesse. Para que seu coração não palpitasse em
disparada. E o único jeito de conseguir tal proeza era através de sua faca.
Tody esfaqueava suas vítimas sempre na segunda
costela porque sabia da eficiência do golpe que perfurava órgãos de importância
vital. Ele era terrível e orgulhava-se de nunca ter perdido um golpe.
Ele era a sensação da ala mais perigosa da
Penitenciária de Culp. Uma gaiola de segurança máxima. Sempre rodeado de
ouvintes, ele contava detalhes de sua carreira como matador.
Tody era doido. E eu que trabalhava como
carcereiro e que passava horas e horas de meu dia ouvindo forçosamente seus
relatos resolvi anotar suas histórias. Até porque, o único modo de Tody conversar
com seus colegas era falando alto para que o som de suas palavras chegasse a
todo canto de sua ala.
Era triste de ouvir. Espinhoso de compreender.
E difícil de anotar nos autos do turno. Então, sem alternativa para meu
martírio, transformei a voz de Tody em um livro. E neste contexto, a vida
tornou-se produtiva. Tody contava. Seus colegas de cadeia ouviam. Enquanto eu,
pacientemente, anotava.
Contudo, Tody não tinha sossego há mais de uma
década. E estava condenado a sentir dores de cabeça e palpitações
continuamente. Afinal de contas, em seu quadrado, Tody só tinha uma saída:
recordar e aguentar o seu merecido castigo.