Creio que seja um tempo para
aprendermos a lidar com nosso sentimento de indignação. Em meio a uma pandemia
de proporções mundiais, o presidente que não consegue ser messias, insiste em
dizer que a população deve se expor ao Covid-19. O mesmo afirma que não tem
outra saída. É claro que não tem, pois o presidente prefere cruzar os braços e
chamar o povo para morrer ao invés de tentar preservar a vida dos brasileiros e
tomar alguma atitude sensata. E mesmo com uma postura suicida, consegue
inflamar seus apoiadores. Hoje eu li na internet, o comentário de um
bolsonarista, que dizia trabalhar de segunda a sexta e que o presidente não o
obrigava a fazer isto. Um exemplo de pessoa que não sabe o que diz. Afinal de
contas, se pudesse escolher, certamente não se exporia ao Covid-19. Mas, sem
oportunidades e políticas adequadas, que dependem, sim, do presidente, não tem
o poder de escolha. Diante de tamanha estupidez e crueldade, respiro fundo,
escrevo e faço o possível para manter minha mente e meu corpo sadios. Até porque,
sei que ninguém pode salvar uma nação dela mesma, sem um mandado de interdição psiquiátrica
que remova o presidente.
Saio para levar o lixo até o contêiner. O tempo está carregado e vem mais chuva e mais desgraça e isso está me atormentando. Tem um vento frio que se parece com o que sopra no inverno. Alguns pássaros cantam ao tempo em que motoristas afoitos buzinam e gesticulam uns para os outros sempre que dois ou três carros se encontram em uma esquina. Logo vejo dois cães que me cercam e começam a latir. São os mesmos de todos os dias. Agora, manter os próprios cachorros na rua como se estivessem em área privada é o novo normal. Aliás, não aguento mais essa teoria de o novo normal para tudo, como se o mundo houvesse virado de cabeça para baixo. Em pouco tempo escuto rosnadas, olho firme para um deles e digo em alto e bom som: se tu te bobear vou ter de te chamar na pedra. O cão pressente que existe algo de diabólico comigo e hesita. Largo o lixo para dentro do contêiner e em dois segundos tenho quatro pedras em minhas mãos. O canino, incrédulo, ainda me olha e eu olho para ele. Lá pelas tantas v...