Creio que seja um tempo para
aprendermos a lidar com nosso sentimento de indignação. Em meio a uma pandemia
de proporções mundiais, o presidente que não consegue ser messias, insiste em
dizer que a população deve se expor ao Covid-19. O mesmo afirma que não tem
outra saída. É claro que não tem, pois o presidente prefere cruzar os braços e
chamar o povo para morrer ao invés de tentar preservar a vida dos brasileiros e
tomar alguma atitude sensata. E mesmo com uma postura suicida, consegue
inflamar seus apoiadores. Hoje eu li na internet, o comentário de um
bolsonarista, que dizia trabalhar de segunda a sexta e que o presidente não o
obrigava a fazer isto. Um exemplo de pessoa que não sabe o que diz. Afinal de
contas, se pudesse escolher, certamente não se exporia ao Covid-19. Mas, sem
oportunidades e políticas adequadas, que dependem, sim, do presidente, não tem
o poder de escolha. Diante de tamanha estupidez e crueldade, respiro fundo,
escrevo e faço o possível para manter minha mente e meu corpo sadios. Até porque,
sei que ninguém pode salvar uma nação dela mesma, sem um mandado de interdição psiquiátrica
que remova o presidente.
Ando em dois mundos e agora estou distante da mata mais verde que já vi O vento castiga minha face e afaga um varal colorido que tremula Sinto que minha alma revive O cheiro do monóxido de carbono carimba meu pulmão E um pássaro canta no alto de uma árvore Contudo, sem asas, porém, também divino, um mano desconhecido corre o olho pelo trampo Sei que a calçada me abriga desde muito jovem Seja palavra Seja tinta Seja madeira Seja ferro, fogo ou brasa O que mais importa é ser Ser como se nasceu Honesto consigo e o mundo em nossa volta E ao tempo em que me sirvo da situação e anoto, estou em paz comigo mesmo Estou livre Estou participando da mudança Estou em casa Estou na rua Estou esparramando um tanto do que brota em meu coração E olhando o varal e coringando o pano, sei que ando em dois mundos Com os mesmos pés O mesmo espírito A mesma alma E a mesma satisfação de ser