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Viver com a maior simplicidade possível


Não creio que minhas escolhas ou ideias sejam verdades absolutas e tampouco tenho a intenção de tornar-me um guru. Contudo, hoje, venho até aqui para relatar uma experiência pessoal. Tomo tal atitude, partindo do pressuposto que enquanto seres humanos, devemos partilhar as nossas vivências com o objetivo de evoluir pessoalmente e coletivamente. Creio que a troca é interessante para qualquer ser pensante. E quero falar de uma vida minimalista. Não sei ao certo se uso esta palavra corretamente, pois existem muitos conceitos e muitas opiniões e visões sobre o assunto, então eu acho que a explicação mais acertada para definir o que quero abordar é a seguinte frase: tornei-me mais feliz, quando entendi que a vida mais simples possível era o caminho mais sereno para seguir.
Como toda pessoa, passei uma parte de meu tempo de criança tentando encontrar o sentido da vida e seguindo convenções sociais que não me tornavam uma pessoa feliz. Muita gente fala sobre isso. Eu diria inclusive, que este é um assunto que é abordado há séculos, mas que a cada dia, surge mais alguém falando sobre tal aspecto. Entendo que isto é muito válido. E de certa forma me mostra que não fui só eu quem chegou a esta conclusão. Então eu creio que possa dizer que este caminho já faz parte da vida de muitas pessoas e isto é bom porque significa que a cultura de uma vida simples se torna cada dia mais perene. Obviamente, se é cultura é costume e se é costume, possui praticantes. Compreendo que tal constatação valida minha vontade em falar sobre isto hoje e dá alimento para uma boa conversa.
Lembro-me de minha mãe que penteava o meu cabelo para o lado quando eu era criança. Lembro-me de meu professor mandando a gente fazer fila para entrar na sala de aula. Lembro-me de ver as pessoas se sacrificando para comprar objetos e roupas de marca famosa, que dessem status. Lembro-me de ouvir que a gente deve conquistar coisas materiais para nos tornarmos referência para os outros. Lembro-me de ouvir que a gente tem de estudar muito para ser o melhor da classe e ter um emprego que nos proporcione muito dinheiro. Enfim, lembro-me de muitas frases que nos empunhavam enquanto pessoas, ainda muito jovens, a seguirmos um caminho já escolhido. Mas, eu raramente ouvi coisas que dissessem para que a gente buscasse o caminho da felicidade sem que tal visão não se atrelasse em seu conceito básico à ideia de competição ou de acúmulo.
O tempo passou e fui me desligando cada vez mais deste tipo de conceito. Eu gostava de ler e achava que sentar diante de um rio e aproveitar a natureza me fazia alguém plenamente satisfeito. O meu coração, mesmo jovial, mostrava-me o caminho. E conforme eu fui lendo e fazendo amizade com o conhecimento, percebia que o conhecimento e a paz são os maiores bens que podemos ter. Lembro-me de um dia em que conversei com minha mãe sobre tal assunto e vi nos olhos dela o esforço que fazia para me entender e me direcionar, pois embora ela dissesse que o mais importante na vida era ser feliz, eu via que meus pais estavam bem enquadrados com o sistema. Como se diz, eles subiram na vida. Enfim, creio que todo mundo juntou algo a mais depois de muitos e muitos anos de trabalho. Compreendo, pois tal atitude, em meu modo de ver, era mais que buscar conforto, e que tinha muito a ver com ter voz, com ser visto; com ser aceito, com ser incluído. Enfim, ela me entendeu e disse que eu deveria escolher e seguir o meu caminho sabendo que tudo tem dois lados. Ela estava certa. A vida é uma balança. Contudo, chegou um momento em minha vida que eu percebi que o outro lado não tinha importância nenhuma e que a minha escolha era realmente a mais acertada para o meu coração.
Livrei-me de muitas obrigações. Não precisava fazer a barba. Não precisava comprar roupas novas. Não precisava sonhar com uma casa imensa. Não precisava desejar o carro do ano. Não precisava ser o fodão em nada. Essa libertação me proporcionou realizar meus sonhos. Consegui dormir bem durante a noite. Consegui encontrar disposição para o meu dia. Consegui manter minha cabeça sadia. Consegui manter o meu espírito livre. Consegui chegar aos 42 anos sem tomar nenhuma medicação para ansiedade ou mesmo para qualquer outro fim psicológico. Creio que isto aconteceu porque em minha bagagem pessoal não havia e não há espaço para convenções e objetivos programados. Encontrei o caminho e a paz sabendo que precisamos de poucos utensílios. Que precisamos de pouco dinheiro. Que precisamos de poucas coisas. Entendi que a gente não precisa acumular 90 pares de meias em uma gaveta para sermos felizes. Enfim, este texto está se tornando longo, então eu acho que posso ser mais sucinto daqui para frente porque confio que já consegui transmitir o que queria. Não acho que o ter é melhor do que o ser. Acho que a nossa busca deve ser outra. Mas, acima de tudo, creio que a nossa busca deve ser só nossa. E embora eu tenha encontrado o meu caminho em uma vida muito simples em todos os sentidos, percebo que nada é mais importante do que seguir os trilhos que escolhemos e não o que nos foi incutido. A vida é muito curta para que a gente deixe os nossos sentimentos de lado para corrermos atrás do que não traz paz para os nossos dias.

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