Ao som de Pachelbel, todo ambiente se
harmonizava. No fogão, movido de boa lenha, cozinhava uma porção de feijão enriquecido
com cenoura e batata. A luz parida de velas, feitas com cera de abelha, dava um
equilíbrio extraordinário ao momento introspectivo e cheio de revelações
vindouras de sua última leitura respectiva ao fraterno legado da paz. Uma ocasião
para curar toda e qualquer dor em meio a um sagrado instante de celebração.
Ando em dois mundos e agora estou distante da mata mais verde que já vi O vento castiga minha face e afaga um varal colorido que tremula Sinto que minha alma revive O cheiro do monóxido de carbono carimba meu pulmão E um pássaro canta no alto de uma árvore Contudo, sem asas, porém, também divino, um mano desconhecido corre o olho pelo trampo Sei que a calçada me abriga desde muito jovem Seja palavra Seja tinta Seja madeira Seja ferro, fogo ou brasa O que mais importa é ser Ser como se nasceu Honesto consigo e o mundo em nossa volta E ao tempo em que me sirvo da situação e anoto, estou em paz comigo mesmo Estou livre Estou participando da mudança Estou em casa Estou na rua Estou esparramando um tanto do que brota em meu coração E olhando o varal e coringando o pano, sei que ando em dois mundos Com os mesmos pés O mesmo espírito A mesma alma E a mesma satisfação de ser