A construção de um homem livre é única. E, olhando o nosso cenário sociológico, percebe-se a
interferência da Indústria Cultural de Massa na edificação de uma espécie de
individuo, que se vê totalmente deteriorado e desesperado por tonar-se parte de
algo programado para sentir-se individualmente aceito e até mesmo existente
enquanto ser. É aqui que entra o arquétipo do tempo, seguido de outro notório
arquétipo, o conhecimento, e por fim, o arquétipo de um homem
realizado.
Antes de tudo, uma redoma é construída,
recheada de expectativas para se cumprir. É o cabelo, a roupa, o carro, a
barba, o salário, a casa, enfim, uma série de coisas a conquistar. Na maioria
das vezes, e não por engano, coisas de muito valor cifrado, com o intuito de
sequestrar a vida do indivíduo, que sem tempo para pensar só pode sonhar em
ganhar muito dinheiro ao tempo em que se escraviza. O filho da Indústria Cultural
de Massa, não tem tempo para raciocinar e chegar a uma dedução racional sobre
sua vida.
Contudo, a disponibilidade de tempo acaba que
por aproximar o indivíduo do conhecimento [a arte, a música, os livros, as
esculturas, as pinturas, a doma, a mecanografia, o artesanato, a carpintaria, entre
tantas outras]. E esta é a diferença entre bens e coisas. Um bem é o que promove
a liberdade de escolha. É um valor que não se pode perder. E coisas são nada
mais do que aquilo que o dinheiro pode comprar ou exibir. Esta é uma diferença
letal, entre o homem livre e produtivo e o homem subjugado pelo sistema. O primeiro
tem conhecimento, e o segundo possui apenas informação, e informação informa e
remunera, mas não liberta.
O que o indivíduo produzido em massa não
compreende, é que a realização está atrelada ao sentido oposto do escravagismo
e da lavagem cerebral exercida pela imposição de expectativas a cumprir. A questão
não é fazer a estrutura que recebe o coberto de uma casa, isso se faz por
dinheiro, mas entalhar a madeira de maneira manual, por exemplo, atrela ao
homem liberto a possibilidade de escolher. Agrega individualidade ao ato e ao
ser. Hoje em dia, se você falar com o indivíduo moderno, perceberá que ele
confunde realização com dinheiro e fama. Mas, nem todo mundo tem tempo para invadir
a filosofia e pensar sobre isto. Quanto mais, entalhar uma estrutura de madeira
para o feitio de um coberto único e majestoso.
Por fim, sob esta condição degradante e manipuladora, segue o homem
padronizado em fábrica. É uma condição aparentemente liberta, como que a de um
ratinho, que dentro de uma gaiola, passa o dia todo correndo e correndo em
círculo, sem nunca poder sair de seu pequeno quadrado. É um ser produzido em linha de montagem, que possui universo pequeno,
avaliação pequena e horizonte assustador.