Sentou-se na rocha. O sol banhava seu
corpo. Havia um silêncio imenso. Podia-se ouvir o riacho que corria. A brisa
era fria, tal qual o dia, e mesmo mansa, mostrava o quanto a temperatura vinha
caindo nos últimos dias. A natureza seguia seu curso com equilíbrio. Nada de
ruim habitava sua mente. Sentia-se envolto por um cosmos luminoso. Uma benção
natural. Algo que nutria seu espírito, seu corpo. Ao longo do tempo a leitura e
o isolamento ganharam espaço em seu dia e vicejaram de hábito para filosofia de
vida. A caminhada que escolheu o trouxe para um universo paralelo em relação
ao mundo no qual passou boa parte de sua vida. Não precisava preocupar-se com
horários e baseava-se nos astros e na natureza para contar o tempo. Não frequentava
supermercados e dedicava-se a colher frutos e cuidar de sua estufa. A vida que
abraçou tinha caráter autossuficiente e pacífico. Há um bom tempo que não
pisava o asfalto e reaproximou-se da terra. Nem lembrava mais de como soavam as
buzinas em meio ao trânsito porque a poluição sonora não alcançava seus ouvidos
de eremita. Josef estava em outra sintonia, sentia-se leve, completo e mais
humano.
Ando em dois mundos e agora estou distante da mata mais verde que já vi O vento castiga minha face e afaga um varal colorido que tremula Sinto que minha alma revive O cheiro do monóxido de carbono carimba meu pulmão E um pássaro canta no alto de uma árvore Contudo, sem asas, porém, também divino, um mano desconhecido corre o olho pelo trampo Sei que a calçada me abriga desde muito jovem Seja palavra Seja tinta Seja madeira Seja ferro, fogo ou brasa O que mais importa é ser Ser como se nasceu Honesto consigo e o mundo em nossa volta E ao tempo em que me sirvo da situação e anoto, estou em paz comigo mesmo Estou livre Estou participando da mudança Estou em casa Estou na rua Estou esparramando um tanto do que brota em meu coração E olhando o varal e coringando o pano, sei que ando em dois mundos Com os mesmos pés O mesmo espírito A mesma alma E a mesma satisfação de ser