Sentou-se na rocha. O sol banhava seu
corpo. Havia um silêncio imenso. Podia-se ouvir o riacho que corria. A brisa
era fria, tal qual o dia, e mesmo mansa, mostrava o quanto a temperatura vinha
caindo nos últimos dias. A natureza seguia seu curso com equilíbrio. Nada de
ruim habitava sua mente. Sentia-se envolto por um cosmos luminoso. Uma benção
natural. Algo que nutria seu espírito, seu corpo. Ao longo do tempo a leitura e
o isolamento ganharam espaço em seu dia e vicejaram de hábito para filosofia de
vida. A caminhada que escolheu o trouxe para um universo paralelo em relação
ao mundo no qual passou boa parte de sua vida. Não precisava preocupar-se com
horários e baseava-se nos astros e na natureza para contar o tempo. Não frequentava
supermercados e dedicava-se a colher frutos e cuidar de sua estufa. A vida que
abraçou tinha caráter autossuficiente e pacífico. Há um bom tempo que não
pisava o asfalto e reaproximou-se da terra. Nem lembrava mais de como soavam as
buzinas em meio ao trânsito porque a poluição sonora não alcançava seus ouvidos
de eremita. Josef estava em outra sintonia, sentia-se leve, completo e mais
humano.
Saio para levar o lixo até o contêiner. O tempo está carregado e vem mais chuva e mais desgraça e isso está me atormentando. Tem um vento frio que se parece com o que sopra no inverno. Alguns pássaros cantam ao tempo em que motoristas afoitos buzinam e gesticulam uns para os outros sempre que dois ou três carros se encontram em uma esquina. Logo vejo dois cães que me cercam e começam a latir. São os mesmos de todos os dias. Agora, manter os próprios cachorros na rua como se estivessem em área privada é o novo normal. Aliás, não aguento mais essa teoria de o novo normal para tudo, como se o mundo houvesse virado de cabeça para baixo. Em pouco tempo escuto rosnadas, olho firme para um deles e digo em alto e bom som: se tu te bobear vou ter de te chamar na pedra. O cão pressente que existe algo de diabólico comigo e hesita. Largo o lixo para dentro do contêiner e em dois segundos tenho quatro pedras em minhas mãos. O canino, incrédulo, ainda me olha e eu olho para ele. Lá pelas tantas v...