Sou um sujeito deslocado no mundo
atual. Sou do tempo em que a gente ia até a casa dos amigos para falar com
eles. Passei pela revolução do telefone em um tempo em que a gente ligava para
falar com quem gostávamos. Depois chegaram os celulares e as mensagens de texto
e era comum enviar algo do tipo, “como vai?”. As coisas foram mudando e
chegamos ao ápice da tecnologia em que se pode comunicar facilmente com
qualquer um através de várias formas. Porém, hoje em dia, não temos mais uma
relação direta, estamos na era dos “contatos”. Quando penso um pouco sobre isso
me dou conta de que no século XXI a vida do outro não tem valor e tal conceito se reafirma na
pandemia de Covid-19. É bem verdade que tudo isso começou muito tempo atrás. Enfim,
vejo a chegada do futuro e assisto ao crescimento da indiferença. Até por que,
hoje em dia, quem fala sozinho não precisa ir ao psicólogo. A sociedade do
cansaço é real. Não por nada, eu falo sobre interação e o mundo pensa em
autoestima.
O serviço começou com o enterro do contato. Quem entregou o dinheiro nunca voltou para casa. E o atirador deu um cuspe em cima da terra que usou para cobrir o corpo. Quem pagou não falou com ele. E quem foi fichado em sua caderneta não sonhou de noite. Uma bala. A cabeça de um lado. E o corpo do outro. Como sempre!