Sou um sujeito deslocado no mundo
atual. Sou do tempo em que a gente ia até a casa dos amigos para falar com
eles. Passei pela revolução do telefone em um tempo em que a gente ligava para
falar com quem gostávamos. Depois chegaram os celulares e as mensagens de texto
e era comum enviar algo do tipo, “como vai?”. As coisas foram mudando e
chegamos ao ápice da tecnologia em que se pode comunicar facilmente com
qualquer um através de várias formas. Porém, hoje em dia, não temos mais uma
relação direta, estamos na era dos “contatos”. Quando penso um pouco sobre isso
me dou conta de que no século XXI a vida do outro não tem valor e tal conceito se reafirma na
pandemia de Covid-19. É bem verdade que tudo isso começou muito tempo atrás. Enfim,
vejo a chegada do futuro e assisto ao crescimento da indiferença. Até por que,
hoje em dia, quem fala sozinho não precisa ir ao psicólogo. A sociedade do
cansaço é real. Não por nada, eu falo sobre interação e o mundo pensa em
autoestima.
Ando em dois mundos e agora estou distante da mata mais verde que já vi O vento castiga minha face e afaga um varal colorido que tremula Sinto que minha alma revive O cheiro do monóxido de carbono carimba meu pulmão E um pássaro canta no alto de uma árvore Contudo, sem asas, porém, também divino, um mano desconhecido corre o olho pelo trampo Sei que a calçada me abriga desde muito jovem Seja palavra Seja tinta Seja madeira Seja ferro, fogo ou brasa O que mais importa é ser Ser como se nasceu Honesto consigo e o mundo em nossa volta E ao tempo em que me sirvo da situação e anoto, estou em paz comigo mesmo Estou livre Estou participando da mudança Estou em casa Estou na rua Estou esparramando um tanto do que brota em meu coração E olhando o varal e coringando o pano, sei que ando em dois mundos Com os mesmos pés O mesmo espírito A mesma alma E a mesma satisfação de ser