Quando um artista assume-se como
operário, muda seu posicionamento e começa vender a maior parte do que ele
produz: muita coisa muda. A despensa enche, as contas ficam em dia, o coração
sossega e a alma se fortalece. Os dias se tornam melhores, o sol fica mais
quente, a chuva ganha uma aparência leve e tudo se transforma em algo mais
terno e mais profundo. O caminho floresce, a inquietação some e o silêncio
liberta.
Ando em dois mundos e agora estou distante da mata mais verde que já vi O vento castiga minha face e afaga um varal colorido que tremula Sinto que minha alma revive O cheiro do monóxido de carbono carimba meu pulmão E um pássaro canta no alto de uma árvore Contudo, sem asas, porém, também divino, um mano desconhecido corre o olho pelo trampo Sei que a calçada me abriga desde muito jovem Seja palavra Seja tinta Seja madeira Seja ferro, fogo ou brasa O que mais importa é ser Ser como se nasceu Honesto consigo e o mundo em nossa volta E ao tempo em que me sirvo da situação e anoto, estou em paz comigo mesmo Estou livre Estou participando da mudança Estou em casa Estou na rua Estou esparramando um tanto do que brota em meu coração E olhando o varal e coringando o pano, sei que ando em dois mundos Com os mesmos pés O mesmo espírito A mesma alma E a mesma satisfação de ser