Esta é uma expressão antiga. Quando
eu era criança, a gente chamava de “rei da cocada” para quem tinha o poder de
tomar uma decisão que influenciaria na vida de muita gente. O tempo passou,
estou mais velho do que nunca, e não sei mais como se chama, na gíria, quem
possui tal status e poderio. Por isso, peço para que você aplique a minha
expressão, “rei da cocada”, de acordo com a denominação moderna que você
conhece. Sim, preciso de sua ajuda, leitor, e, desde já, agradeço pela sua
empatia.
O fato é que estamos perto de completar
um ano em um disfarçado combate ao Covid-19. E o que mais se vê é negacionismo,
mortes desnecessárias, piadas idiotas, crise econômica em grande escala e uma
imensa má vontade em combater a pandemia. Este tipo de posicionamento por parte
de quem se pode chamar de “rei da cocada” continua inflamando muita gente a
minimizar nossa cruel realidade. Os hospitais estão cheios e muitas pessoas que
conheço estão infectadas, sem falar nas que morreram.
Fico me perguntando de onde vem tanta
dificuldade em ver o que está estampado nos jornais, no cotidiano, na boca de
muitos familiares das vítimas e, por que não dizer, nos boletins hospitalares?
Então me lembro de que um dia ouvi de um homem sábio que: a verdade é chata e nos coloca diante de uma
situação em que precisamos mudar nosso comportamento, enquanto que a mentira
nos dá a liberdade de nos eximirmos de responsabilidades e nos acomoda diante
da possibilidade de agirmos conforme nossas conveniências e a vontade do nosso
“rei da cocada”.
A partir daqui, tenho muito pouco a
dizer, afinal de contas, pode-se avisar ao homem de que ele assume o papel de
gado, assim como, a respeito do brete e do que acontece no matadouro, mas não
se pode salvar ninguém dele mesmo. Assim sendo, me rebelo e pulo a cerca do
curral. Corro em meio ao matagal enquanto sou perseguido pelos funcionários do
matadouro e seus simpatizantes e não paro até sumir e me esconder. Neste
momento, respiro fundo, agradeço pela momentânea segurança, e embora tenha me
tornado um tatu dentro de uma toca, sinto que, não posso fazer valer minha
vontade e dizer: a partir de hoje, todo mundo é tatu e temos outro “rei da
cocada”.