Há tempo que não tinha uma tarde
assim. Não ouço barulho algum. Sinto como se o silêncio houvesse tomado conta
de tudo e todos. Nem mesmo os pássaros cantam. O sol está tímido. O vento
também não ressoa. Não sei o que pensar a respeito deste momento. Não sei ao
certo qual é a razão para um dia tão pacífico. Será um dia de tristeza? Um dia
de preguiça? Talvez, um dia de reflexão coletiva? Não sei. Realmente não sei. O
fato é que estou escrevendo um pouco. Aproveitando este instante para calejar a
ponta de meus dedos. Sinto conforto em meu coração. Minha alma está regenerada.
É como se alcançasse um estado de equilíbrio muito próximo do nirvana. Tenho tentado
viver com esperança e sabedoria. Aos poucos fui conseguindo lidar com o caos em
minha volta. E, hoje, percebo este silêncio como parte de minha caminhada. E,
particularmente falando, o interpreto como sendo a colheita de um plantio árduo
que venho fazendo. Sinto que, aos poucos, estou salvando-me da loucura, da dor,
do aborrecimento e de todas as mazelas que um mundo doido, como este, possa
colocar sobre os ombros de uma pessoa. Sinto-me completo. Sereno. E pronto para
viver feliz pelo resto de meus dias.
O serviço começou com o enterro do contato. Quem entregou o dinheiro nunca voltou para casa. E o atirador deu um cuspe em cima da terra que usou para cobrir o corpo. Quem pagou não falou com ele. E quem foi fichado em sua caderneta não sonhou de noite. Uma bala. A cabeça de um lado. E o corpo do outro. Como sempre!