A vida é uma mistura de reflexos causados pelas nossas escolhas. Dividimos nossa energia em fragmentos. Cada instante vivido ganha um status mais leve ou mais pesado. É a gente quem administra o teor do que nos cerca. Estudando alquimia dei-me conta de que tinha de lidar com a vida de um modo leve em qualquer situação. Compreendi o valor do silêncio. Entendi a necessidade de não tomar em minhas mãos o que não me é devido. Consegui poupar-me durante a caminhada observando e ouvindo os sábios. E assimilei que todos nós temos um tempo e um caminho a percorrer. Portanto, coberto de aceitação, estou ciente de que o despertar é individual e de que o universo não é estático. Passo meus dias abraçado com a resignação ao tempo em que leio Cora Coralina. Escrevo bastante e publico pouco. Estou atento aos afazeres. Guardo minha energia e não a ponho fora. A vida em labuta é boa, mas também é árdua. E sinto-me como um eremita devotado que se ocupa da própria alma e vislumbra a luz da grande obra.
Ando em dois mundos e agora estou distante da mata mais verde que já vi O vento castiga minha face e afaga um varal colorido que tremula Sinto que minha alma revive O cheiro do monóxido de carbono carimba meu pulmão E um pássaro canta no alto de uma árvore Contudo, sem asas, porém, também divino, um mano desconhecido corre o olho pelo trampo Sei que a calçada me abriga desde muito jovem Seja palavra Seja tinta Seja madeira Seja ferro, fogo ou brasa O que mais importa é ser Ser como se nasceu Honesto consigo e o mundo em nossa volta E ao tempo em que me sirvo da situação e anoto, estou em paz comigo mesmo Estou livre Estou participando da mudança Estou em casa Estou na rua Estou esparramando um tanto do que brota em meu coração E olhando o varal e coringando o pano, sei que ando em dois mundos Com os mesmos pés O mesmo espírito A mesma alma E a mesma satisfação de ser