No horizonte, vejo uma barra azul feita de chuva grande e insistente. Faz outono em pleno verão. Sinto o vento
gelado. Fecho a janela basculante. Sirvo um pouco de pinga. E me sento na
poltrona ao lado da pia em minha cozinha. Bebo um gole da malvada e percebo que
meu peito aquece. Tomo em minhas mãos O acrobata pede desculpas e cai – do
fabuloso Fausto Wolff. É um livro que releio seguidamente. Fausto faz parte de
meu cardápio literário costumeiro e nem sei quantas vezes já reli sua obra. Vou
direto ao capítulo 29. Tenho a impressão de que revigoro minha alma ao passar
meus olhos por tais linhas nada estranhas. É sempre bom reafirmar os próprios
votos diante de um mundo insano. Ouço a chuva que bate no telhado de zinco. Está
mais forte. Parece uma bateria lascando rock and roll. Realmente, a chuva não
vai embora. E no mais, agradeço ao Velho Lobo por tudo e por todo sempre.
O serviço começou com o enterro do contato. Quem entregou o dinheiro nunca voltou para casa. E o atirador deu um cuspe em cima da terra que usou para cobrir o corpo. Quem pagou não falou com ele. E quem foi fichado em sua caderneta não sonhou de noite. Uma bala. A cabeça de um lado. E o corpo do outro. Como sempre!