Fumo um palheiro feito com palha de
milho e tabaco orgânicos, que ganhei de presente de um amigo, em companhia de
um bom chá de ora-pro-nóbis, também orgânica, que cultivo aqui em casa mesmo.
E, ao tempo em que provo estes sabores, escrevo esta crônica. Pretendo falar a
respeito deste instante, com a mais absoluta sinceridade. E o que posso dizer:
é que observo a chuva mansa, através da basculante, e me sinto bem. Estou
envolto de prazeres e me pego a pensar sobre a vida. Não sei o que o leitor
pensa, mas acho que se pode encontrar um momento de paz e satisfação, neste
mundo louco, ao tempo em que se cultiva simplicidade. A vida é simples e árdua.
Acho que é aqui que está o segredo de tudo, na simplicidade do labor, do
cotidiano e de seus sabores. Tenho encontrado satisfação, em meus dias, com
base nas pequenas coisas. No sabor de ler. De fumar. De experimentar um chá. De
editar. De escrever uma crônica ou mesmo de revisar um texto. De filtrar um
adubo estonteante. Esta é a soma sagrada que me fortalece. Penso que sou o
somatório do que sinto ao viver meu dia e atribuo minha paz e minha satisfação
ao modo como me relaciono com meus instantes. Sinto que o céu de minha boca
está recheado de essências que gosto e que me trazem bons fluídos. Eu me sinto
leve e acredito que sou um sujeito fácil de contentar. E, por fim, tenho a
impressão de que, talvez, vagando em busca de um pouco, encontrei tudo que vale
a pena nesta vida.
O serviço começou com o enterro do contato. Quem entregou o dinheiro nunca voltou para casa. E o atirador deu um cuspe em cima da terra que usou para cobrir o corpo. Quem pagou não falou com ele. E quem foi fichado em sua caderneta não sonhou de noite. Uma bala. A cabeça de um lado. E o corpo do outro. Como sempre!