O Facebook é a empresa mais cínica e
perversa que eu conheço. Por quê? Simplesmente porque ou a gente concorda com sua
política ou não tem acordo. É impossível esperar bom senso ou limite por parte
do “voyeur azulzinho” e seus algoritmos nada sociáveis ou éticos. Contudo, não
contava com arrego por parte dos mesmos, que representam o sistema faminto por
nossas almas. Eu confiava mesmo era que os usuários de internet fossem menos
narcisistas e mais inteligentes, já que se consideram livres. Os blogs estão
esquecidos pela maioria, os e-mails não são acessados e o vício em si mesmo é
algo que equiparo com a dependência em crack. Não se escreve e tampouco se
compreende 140 caracteres. O resultado é tremendo. A literatura, o conhecimento
e o saber perdem espaço. De um lado temos o estupro da mente e o jogo duplo
consentido por parte do usuário. Na direção oposta, o hermetismo. Eu prefiro o
hermetismo. Afinal de contas, “os lábios estão fechados, exceto aos ouvidos do
entendimento”, tal qual em Caibalion. E, mesmo diante de uma visão aterradora
para toda humanidade, sinto-me reconfortado em dobro a partir do momento em que
tenho consciência de que Charles Bukowski avisou, “a multidão sempre estará
errada”.
Saio para levar o lixo até o contêiner. O tempo está carregado e vem mais chuva e mais desgraça e isso está me atormentando. Tem um vento frio que se parece com o que sopra no inverno. Alguns pássaros cantam ao tempo em que motoristas afoitos buzinam e gesticulam uns para os outros sempre que dois ou três carros se encontram em uma esquina. Logo vejo dois cães que me cercam e começam a latir. São os mesmos de todos os dias. Agora, manter os próprios cachorros na rua como se estivessem em área privada é o novo normal. Aliás, não aguento mais essa teoria de o novo normal para tudo, como se o mundo houvesse virado de cabeça para baixo. Em pouco tempo escuto rosnadas, olho firme para um deles e digo em alto e bom som: se tu te bobear vou ter de te chamar na pedra. O cão pressente que existe algo de diabólico comigo e hesita. Largo o lixo para dentro do contêiner e em dois segundos tenho quatro pedras em minhas mãos. O canino, incrédulo, ainda me olha e eu olho para ele. Lá pelas tantas v...