O título desta crônica é autoexplicativo. Depois
de nosso presidente Jair Bolsonaro inflamar seus apoiadores contra a Venezuela,
Manaus – em crise por conta da falta de oxigênio gerada pela inabilidade de
nosso governo em administrar a pandemia de Covid-19 –, recebe oxigênio de quem?
Acertou quem disse: Venezuela. É o que eu chamo de morder a língua. Certamente se nossos bolsonaristas tivessem um pingo de senso crítico pediriam perdão ao
nosso vizinho. Pois é, parece que o neoliberalismo de Bolsonaro não atende a
nenhuma expectativa. Enfim, eu poderia tocar uma flauta mais longa neste texto,
mas não creio que seja necessário ou oportuno por conta da seriedade do assunto.
É por isso que quando aponto as falhas do nosso desgoverno e alguém comenta
defendendo o nosso presidente eu simplesmente ignoro o comentário. Acho que a
realidade também é autoexplicativa, não é mesmo?
Saio para levar o lixo até o contêiner. O tempo está carregado e vem mais chuva e mais desgraça e isso está me atormentando. Tem um vento frio que se parece com o que sopra no inverno. Alguns pássaros cantam ao tempo em que motoristas afoitos buzinam e gesticulam uns para os outros sempre que dois ou três carros se encontram em uma esquina. Logo vejo dois cães que me cercam e começam a latir. São os mesmos de todos os dias. Agora, manter os próprios cachorros na rua como se estivessem em área privada é o novo normal. Aliás, não aguento mais essa teoria de o novo normal para tudo, como se o mundo houvesse virado de cabeça para baixo. Em pouco tempo escuto rosnadas, olho firme para um deles e digo em alto e bom som: se tu te bobear vou ter de te chamar na pedra. O cão pressente que existe algo de diabólico comigo e hesita. Largo o lixo para dentro do contêiner e em dois segundos tenho quatro pedras em minhas mãos. O canino, incrédulo, ainda me olha e eu olho para ele. Lá pelas tantas v...