As noites tornaram-se mais frias e
orvalhadas. Os dias têm sol quente e vento audacioso. O ecossistema em que
estou inserido denota suaves mudanças. Tudo se acomoda como devido para os
tempos vindouros. Corro com meus preparativos e tento acompanhar a natureza.
Sei que faço parte do todo. Observo a grande obra e me sinto feliz com tantas
recompensas. Agradeço ao universo pela oportunidade de fazer parte e também
pela chance de colocar em prática meu labor e meus estudos. Em breve estarei
diante do fogo — em pleno inverno — e com a chapa do fogão coberta de pinhão.
Saio para levar o lixo até o contêiner. O tempo está carregado e vem mais chuva e mais desgraça e isso está me atormentando. Tem um vento frio que se parece com o que sopra no inverno. Alguns pássaros cantam ao tempo em que motoristas afoitos buzinam e gesticulam uns para os outros sempre que dois ou três carros se encontram em uma esquina. Logo vejo dois cães que me cercam e começam a latir. São os mesmos de todos os dias. Agora, manter os próprios cachorros na rua como se estivessem em área privada é o novo normal. Aliás, não aguento mais essa teoria de o novo normal para tudo, como se o mundo houvesse virado de cabeça para baixo. Em pouco tempo escuto rosnadas, olho firme para um deles e digo em alto e bom som: se tu te bobear vou ter de te chamar na pedra. O cão pressente que existe algo de diabólico comigo e hesita. Largo o lixo para dentro do contêiner e em dois segundos tenho quatro pedras em minhas mãos. O canino, incrédulo, ainda me olha e eu olho para ele. Lá pelas tantas v...