As noites tornaram-se mais frias e
orvalhadas. Os dias têm sol quente e vento audacioso. O ecossistema em que
estou inserido denota suaves mudanças. Tudo se acomoda como devido para os
tempos vindouros. Corro com meus preparativos e tento acompanhar a natureza.
Sei que faço parte do todo. Observo a grande obra e me sinto feliz com tantas
recompensas. Agradeço ao universo pela oportunidade de fazer parte e também
pela chance de colocar em prática meu labor e meus estudos. Em breve estarei
diante do fogo — em pleno inverno — e com a chapa do fogão coberta de pinhão.
Ando em dois mundos e agora estou distante da mata mais verde que já vi O vento castiga minha face e afaga um varal colorido que tremula Sinto que minha alma revive O cheiro do monóxido de carbono carimba meu pulmão E um pássaro canta no alto de uma árvore Contudo, sem asas, porém, também divino, um mano desconhecido corre o olho pelo trampo Sei que a calçada me abriga desde muito jovem Seja palavra Seja tinta Seja madeira Seja ferro, fogo ou brasa O que mais importa é ser Ser como se nasceu Honesto consigo e o mundo em nossa volta E ao tempo em que me sirvo da situação e anoto, estou em paz comigo mesmo Estou livre Estou participando da mudança Estou em casa Estou na rua Estou esparramando um tanto do que brota em meu coração E olhando o varal e coringando o pano, sei que ando em dois mundos Com os mesmos pés O mesmo espírito A mesma alma E a mesma satisfação de ser