Acho que existe algo de errado com o nosso
sentimento de desconfiança. E quando falo em desconfiança me refiro à dúvida. E
tal sensação de dúvida é respectiva ao todo e tem relação com o conceito que formamos
a respeito de nós mesmos. Como disse Sócrates, só sei que nada sei. Mas, não! É
muita gente sabendo, falando de envergadura intelectual no YouTube e autonomeando-se
como filósofo capaz de esgotar questões da mesma maneira que um juiz de direito
aplica uma sentença. Fico pensando que no campo filosófico existem os
pré-socráticos, os socráticos e os pós-socráticos. Portanto, realmente, tenho
convicção de que só sei que nada sei. Não consigo compreender como a ideia de
sabedoria e intelectualidade atual consegue germinar sem o benefício da dúvida.
Eu poderia ser carcamano e dizer, “leia tudo que Sócrates escreveu”. Muita
gente me responderia, “eu li tudo, recomendo”. Só que Sócrates, nunca escreveu
nada. Não há nem mesmo um único livro na face desta Terra que tenha sido
escrito por ele. Mas, Platão, seu aluno, escreveu a respeito do pensamento
socrático através de diálogos formidáveis. Enfim, a nossa opinião vale muito
para nós mesmos, mas de nada vale ao mundo, enquanto verdade absoluta. E no
mais, é sempre saudável saber que nada sabemos.
O serviço começou com o enterro do contato. Quem entregou o dinheiro nunca voltou para casa. E o atirador deu um cuspe em cima da terra que usou para cobrir o corpo. Quem pagou não falou com ele. E quem foi fichado em sua caderneta não sonhou de noite. Uma bala. A cabeça de um lado. E o corpo do outro. Como sempre!