Pular para o conteúdo principal

Penso em Sócrates

Acho que existe algo de errado com o nosso sentimento de desconfiança. E quando falo em desconfiança me refiro à dúvida. E tal sensação de dúvida é respectiva ao todo e tem relação com o conceito que formamos a respeito de nós mesmos. Como disse Sócrates, só sei que nada sei. Mas, não! É muita gente sabendo, falando de envergadura intelectual no YouTube e autonomeando-se como filósofo capaz de esgotar questões da mesma maneira que um juiz de direito aplica uma sentença. Fico pensando que no campo filosófico existem os pré-socráticos, os socráticos e os pós-socráticos. Portanto, realmente, tenho convicção de que só sei que nada sei. Não consigo compreender como a ideia de sabedoria e intelectualidade atual consegue germinar sem o benefício da dúvida. Eu poderia ser carcamano e dizer, “leia tudo que Sócrates escreveu”. Muita gente me responderia, “eu li tudo, recomendo”. Só que Sócrates, nunca escreveu nada. Não há nem mesmo um único livro na face desta Terra que tenha sido escrito por ele. Mas, Platão, seu aluno, escreveu a respeito do pensamento socrático através de diálogos formidáveis. Enfim, a nossa opinião vale muito para nós mesmos, mas de nada vale ao mundo, enquanto verdade absoluta. E no mais, é sempre saudável saber que nada sabemos.

Postagens mais visitadas deste blog

Território fértil e livre

O artista que expõe seu trampo na rua tem um retorno enorme. Nos últimos 90 dias fiz um estudo no qual comparei a resposta que tive empregando esforço na internet com o que consegui expondo nas praças. A ideia de fazer tal pesquisa surgiu a partir de um papo com colegas e amigos – um debate muito antigo, recorrente e maçante. Inclusive, me comprometi de apresentar dados e tenho fotos para comprovar minhas constatações. Então, esta semana, cheguei ao veredito. E é claro que o retorno da rua superou o que fora realizado através de postagens. Principalmente quando se compara a medida de esforço para realizar cada um deles em relação ao engajamento, palavra da moda. E, conforme combinado, ontem, concretizei minha despedida on-line. Este era o trato. Se a internet superasse a rua, assumi o compromisso de cessar com o mangueio e vice-versa. É importante registrar, que me propus a realizar tal trabalho porque queria saber outro dado: qual é a disposição do artista para sair a campo com se

Acordo todo dia no mesmo mundo cão

Saio para levar o lixo até o contêiner. O tempo está carregado e vem mais chuva e mais desgraça e isso está me atormentando. Tem um vento frio que se parece com o que sopra no inverno. Alguns pássaros cantam ao tempo em que motoristas afoitos buzinam e gesticulam uns para os outros sempre que dois ou três carros se encontram em uma esquina. Logo vejo dois cães que me cercam e começam a latir. São os mesmos de todos os dias. Agora, manter os próprios cachorros na rua como se estivessem em área privada é o novo normal. Aliás, não aguento mais essa teoria de o novo normal para tudo, como se o mundo houvesse virado de cabeça para baixo. Em pouco tempo escuto rosnadas, olho firme para um deles e digo em alto e bom som: se tu te bobear vou ter de te chamar na pedra. O cão pressente que existe algo de diabólico comigo e hesita. Largo o lixo para dentro do contêiner e em dois segundos tenho quatro pedras em minhas mãos. O canino, incrédulo, ainda me olha e eu olho para ele. Lá pelas tantas v

Existe um desespero evidente

Chamar atenção é a cultura do momento. Muita gente se perde enquanto tenta angariar popularidade. Antigamente, costumava escrever histórias em canais de comunicação em que o texto e a reflexão não eram a prioridade. Levei um certo tempo para alcançar que estava deslocado e aceitar que frequentava o espaço errado. E durante muitos dias de minha vida fiquei sem entender algumas reações em minha volta. Embora formado em comunicação social sempre achei que os textos e os contextos eram autoexplicativos. Porém, me enganei. E quando me dei conta disso comecei a pensar em todos os dados que tinha enquanto editor de livros. Lá pelas tantas tive de dar o braço a torcer e entendi que não temos 5% de pessoas capazes de identificar o que é ficção e o que é realidade. Claro que um país que lê tão pouco não está preparado para debater e entender muita coisa. Contudo, a partir do momento em que parti para publicações manuais e passei a veicular minhas obras no meu tapetão de andarilho tudo mudou. Fiq