Aprendi a amar o silêncio e sossegar
meu coração, pois não tenho mais a pretensão de salvar ninguém de si mesmo. O
tempo passa, a vida ensina e o caminho se revela e revela. Ao semelhante, entrego-lhe
o conforto da própria liberdade e toda dignidade para servir-se de ignorância ou
conhecimento, conforme sua sede e sua fome. Porém, o bom tom obriga-me a
tornar-me igualmente livre e preservar-me conforme aprendo e caminho.
Saio para levar o lixo até o contêiner. O tempo está carregado e vem mais chuva e mais desgraça e isso está me atormentando. Tem um vento frio que se parece com o que sopra no inverno. Alguns pássaros cantam ao tempo em que motoristas afoitos buzinam e gesticulam uns para os outros sempre que dois ou três carros se encontram em uma esquina. Logo vejo dois cães que me cercam e começam a latir. São os mesmos de todos os dias. Agora, manter os próprios cachorros na rua como se estivessem em área privada é o novo normal. Aliás, não aguento mais essa teoria de o novo normal para tudo, como se o mundo houvesse virado de cabeça para baixo. Em pouco tempo escuto rosnadas, olho firme para um deles e digo em alto e bom som: se tu te bobear vou ter de te chamar na pedra. O cão pressente que existe algo de diabólico comigo e hesita. Largo o lixo para dentro do contêiner e em dois segundos tenho quatro pedras em minhas mãos. O canino, incrédulo, ainda me olha e eu olho para ele. Lá pelas tantas v...