Estava de folga. Já havia molhado a
horta e revisado um tanto de páginas. Estava com boa parte do meu dia
disponível. Deitei na rede e fiquei olhando para a estrada de terra e não via
nada. Nem redemoinho passava — como se diz. O calor era grande. Então me mandei
para a ponte. O rio é largo e fundo e não tem pedras ou galhadas embaixo da
água. O lugar é bem limpo e bonito. Entrei devagar. Dei uma boa tateada para ter
certeza de que não havia perigo. Então dei a primeira bicuda. Senti que a água
estava morna. Não tinha correnteza e um punhado de pássaros cantava lá na copa
das árvores em meio à mata.
Lá pelas tantas, ouvi alguém
gritando, lá do outro lado da margem: “tá nadando igual peixe”.
Era o Tininho. Agradeci o elogio e
respondi: “já que a gente não pode nadar junto, por conta da pandemia, eu fico
com uma margem do rio e você com a outra”.
Ele fez um sinal de positivo e disse:
“quando tudo isso passar vamos voltar aqui e fazer um campeonato de bicudas”.
Deixei um sorriso no ar que a mais de
50 metros de distância não dava para ver e gritei: “vamos sim. Já estou
treinando”.
Sentei no barranco e fiquei olhando
para o Tininho. Uma ótima pessoa. Um cara legal que produz o melhor mel que já
experimentei. É famoso aqui nas redondezas. Eu e ele nos conhecemos desde os
tempos de guri e passamos boa parte de nossas vidas dando bicudas nas águas da
ponte. Fiquei contente por vê-lo, mesmo que de longe. Por que o Tininho é um
tipo de cara que a gente não pode perder.