Creio que o saber não é algo para
trazer superioridade pessoal, mas para acarretar crescimento coletivo. O que
temos de compreender, na minha visão, é que um jarro cheio de água pode ser
usado para matar a sede ou para atingir a cabeça de alguém. O problema não é o
jarro, mas quem se senta em sua volta. E assim acontece com o conhecimento e
com tudo que nos cerca. A consciência impõe responsabilidade e formar
estruturas de pensamento sem nenhuma base científica é mais difícil do que a
partir dos conceitos. Falo de conceitos porque, enquanto seres que usam a fala
e a escrita para a própria expressão, necessitamos nomear as coisas e dar
sentido ao que expomos para localizarmos nosso interlocutor no momento do
debate. É por isso que usar o jarro de
maneira correta é sempre mais importante do que ensinar ou aprender. O todo é o
mundo e não somente os que estão perto da gente. Portanto, os demais contam com
a estruturação universal da comunicação para interpretar o que recebem e expor o que pensam. O entendimento
precisa de um código e de uma mensagem. Está aí o jarro com água e os que se sentam a sua volta que não me
deixam mentir.
Saio para levar o lixo até o contêiner. O tempo está carregado e vem mais chuva e mais desgraça e isso está me atormentando. Tem um vento frio que se parece com o que sopra no inverno. Alguns pássaros cantam ao tempo em que motoristas afoitos buzinam e gesticulam uns para os outros sempre que dois ou três carros se encontram em uma esquina. Logo vejo dois cães que me cercam e começam a latir. São os mesmos de todos os dias. Agora, manter os próprios cachorros na rua como se estivessem em área privada é o novo normal. Aliás, não aguento mais essa teoria de o novo normal para tudo, como se o mundo houvesse virado de cabeça para baixo. Em pouco tempo escuto rosnadas, olho firme para um deles e digo em alto e bom som: se tu te bobear vou ter de te chamar na pedra. O cão pressente que existe algo de diabólico comigo e hesita. Largo o lixo para dentro do contêiner e em dois segundos tenho quatro pedras em minhas mãos. O canino, incrédulo, ainda me olha e eu olho para ele. Lá pelas tantas v...