Eu poderia fazer um texto longo explicando por
qual motivo ainda não temos um processo de impedimento em andamento com relação
ao nosso presidente. Mas, não cairei neste erro, porque passar o tempo todo explicando
que bolacha redonda não tem canto já perdeu a graça em minha ótica. Então serei
direto: o processo não anda por conta de que não pode respingar nada de
responsabilidade nos tubarões que o apoiaram ou que ainda tem algo a ganhar com
tudo isso. O sistema é o sistema. Envolve política, capital e mídia. Como disse
Raul, “Tem gente que passa a vida inteira/ Travando a inútil luta com os galhos/
Sem saber que é lá no tronco/ Que está o coringa do baralho”.
Saio para levar o lixo até o contêiner. O tempo está carregado e vem mais chuva e mais desgraça e isso está me atormentando. Tem um vento frio que se parece com o que sopra no inverno. Alguns pássaros cantam ao tempo em que motoristas afoitos buzinam e gesticulam uns para os outros sempre que dois ou três carros se encontram em uma esquina. Logo vejo dois cães que me cercam e começam a latir. São os mesmos de todos os dias. Agora, manter os próprios cachorros na rua como se estivessem em área privada é o novo normal. Aliás, não aguento mais essa teoria de o novo normal para tudo, como se o mundo houvesse virado de cabeça para baixo. Em pouco tempo escuto rosnadas, olho firme para um deles e digo em alto e bom som: se tu te bobear vou ter de te chamar na pedra. O cão pressente que existe algo de diabólico comigo e hesita. Largo o lixo para dentro do contêiner e em dois segundos tenho quatro pedras em minhas mãos. O canino, incrédulo, ainda me olha e eu olho para ele. Lá pelas tantas v...