Dia de sol e céu azul como há muito não
via. Ponho-me diante do ecossistema e observo seu funcionamento. Nada pode
pará-lo. Tudo acontece quando e como tem de acontecer. É a força divina e
universal que se apresenta enquanto energia que precede o milagre. Envolto de
livros, plantas e utensílios, mantenho-me atento a tudo para não perder
nenhuma anotação. Os detalhes são reveladores. Creio que tenha encontrado uma
resposta profunda e significativa para que possa concentrar-me no feitio da
grande obra ao momento em que procuro a mais profunda iluminação. Sinto-me
livre e ao mesmo tempo protegido em meu refúgio e plenamente satisfeito. O que
em algum instante soou como loucura tornou-se um projeto centrado e assertivo. Nada sobra e nada falta, tudo se complementa. Posso dizer, sem sombra
de dúvida, que nada supera a força natural que rege tudo que se pode ver, ouvir
ou sentir neste mundo. Entre tantas lições: perceber-me na qualidade de
instrumento e não como força motriz é algo valioso que carregarei em meu âmago
por toda vida.
Ando em dois mundos e agora estou distante da mata mais verde que já vi O vento castiga minha face e afaga um varal colorido que tremula Sinto que minha alma revive O cheiro do monóxido de carbono carimba meu pulmão E um pássaro canta no alto de uma árvore Contudo, sem asas, porém, também divino, um mano desconhecido corre o olho pelo trampo Sei que a calçada me abriga desde muito jovem Seja palavra Seja tinta Seja madeira Seja ferro, fogo ou brasa O que mais importa é ser Ser como se nasceu Honesto consigo e o mundo em nossa volta E ao tempo em que me sirvo da situação e anoto, estou em paz comigo mesmo Estou livre Estou participando da mudança Estou em casa Estou na rua Estou esparramando um tanto do que brota em meu coração E olhando o varal e coringando o pano, sei que ando em dois mundos Com os mesmos pés O mesmo espírito A mesma alma E a mesma satisfação de ser