A ampliação do ecossistema está em
curso. Tudo segue como planejado. A partir de hoje à noite inicio a montagem do
acréscimo. Com a nova estruturação, a produção quadriplicará. A grande obra
desvenda-se com naturalidade. Sinto-me feliz e comemorarei o avanço com uma
sopa de lentilha que será temperada com cenouras, batatas, alho, cebola e sal. A
vida torna-se mais equilibrada e autossuficiente a cada dia. E quando fecho meus
olhos, consigo ouvir os sinos da mais pura libertação.
Saio para levar o lixo até o contêiner. O tempo está carregado e vem mais chuva e mais desgraça e isso está me atormentando. Tem um vento frio que se parece com o que sopra no inverno. Alguns pássaros cantam ao tempo em que motoristas afoitos buzinam e gesticulam uns para os outros sempre que dois ou três carros se encontram em uma esquina. Logo vejo dois cães que me cercam e começam a latir. São os mesmos de todos os dias. Agora, manter os próprios cachorros na rua como se estivessem em área privada é o novo normal. Aliás, não aguento mais essa teoria de o novo normal para tudo, como se o mundo houvesse virado de cabeça para baixo. Em pouco tempo escuto rosnadas, olho firme para um deles e digo em alto e bom som: se tu te bobear vou ter de te chamar na pedra. O cão pressente que existe algo de diabólico comigo e hesita. Largo o lixo para dentro do contêiner e em dois segundos tenho quatro pedras em minhas mãos. O canino, incrédulo, ainda me olha e eu olho para ele. Lá pelas tantas v...