O sol estava quente e o vento soprava com força. Tragava um careta e pensava em escrever. Sabia que tinha de fazer a lida antes de poder sentar e anotar alguma coisa. Em minha volta, transeuntes e carros disputavam a lateral da rua. Enquanto isso tentava recolher a matéria orgânica com o máximo de cuidado. Queria encher a sacola de rafia até a boca e me livrar de espinhos, aranhas, escorpiões e cobras. Lá pelas tantas, vi que algo se moveu em meio aos galhos. Dei um passo para trás. Traguei fundo e não tirei os olhos do lugar em que vi o movimento. Peguei o facão, que carrego para destrinchar as galhadas, e quando a Cruzeiro colocou a cabeça para fora das folhas, prendi com a ponta do facão. Com cuidado, eu a peguei por trás da sua cabeça. Não sabia o que fazer com ela. Na dúvida a coloquei dentro de uma saca e amarrei para que não me fizesse nenhuma surpresa. Tomei o rumo de uma estrada de terra. Andei até bem longe do perímetro urbano e a deixei em um capão de mato. Ela também é um ser vivo e não posso dizer que é mais perigosa do que eu para justificar sua morte. Zarpei e quando cheguei em casa dei conta de guardar a matéria orgânica e de comer para os cães. Assim que cheguei à cozinha fui cego até a geladeira, servi um trago e tratei de registrar o acontecido. Afinal de contas, não é todo dia que se encontra uma criatura tão bonita.
O serviço começou com o enterro do contato. Quem entregou o dinheiro nunca voltou para casa. E o atirador deu um cuspe em cima da terra que usou para cobrir o corpo. Quem pagou não falou com ele. E quem foi fichado em sua caderneta não sonhou de noite. Uma bala. A cabeça de um lado. E o corpo do outro. Como sempre!