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Quem é trabalhador não tem tempo a perder

Esta crônica é o resultado de uma sequência de fatos ocorridos durante esta semana. Na terça-feira, houve um temporal danado aqui em minha cidade. Choveu granizo de balde, como se diz. Aqui em casa, chegou ao ponto de entrar água porque a rua parecia um rio. E o sol só apareceu hoje.

Muitas pessoas tiveram prejuízos enormes por conta da chuvarada que perdurou por todos esses dias. Aqui em casa, tive mais sorte, neste sentido, tive apenas de fazer uma baita faxina dentro e fora e realizar pequenos consertos que eu mesmo fiz.

Em primeiro lugar, quero destacar que no dia do temporal, logo no início da semana, meu celular não completava as chamadas que eu realizava. Contudo, o telemarketing do capeta me ligava a cada cinco segundos. Eu querendo saber notícias dos amigos e não conseguia. Queria saber se estavam bem, se precisavam de ajuda. Mas, chegou uma hora em que desisti de tentar.

Em seguida, tentei fazer um post no WhatsApp. Pensei, vou divulgar minha literatura hoje e quando o sol voltar cuido de outros afazeres. O plano era simples, postar em meu status, uma foto em que seguro uma marreta usada na construção civil, com a seguinte legenda: A ciência da marreta. Um texto antigo, o qual está logo abaixo desta crônica e que você, leitor, pode conferir.

Meu objetivo era colocar a foto, a descrição que informei e um link para o meu blog, este aqui, em que escrevo esta crônica. Mas, não foi possível. Só que eu percebi que o aplicativo estava me barrando, do mesmo modo como acontecia quando eu tentava divulgar o que escrevia no FB. Sim, porque se o telemarketing conseguia me ligar e conseguia me enviar propostas de produtos, não havia problema com o referido WhatsApp e também não havia problema com a linha telefônica devido ao temporal. Certo?

Este tipo de coisa é um padrão de restrição em relação ao que escrevo. Pois, sempre que tento usar os mecanismos fornecidos pelo dono do WhatsApp, que por sinal é o mesmo do FB, para divulgar minha literatura, não consigo realizar as postagens sem muita insistência ou inconvenientes. Pelo que entendo, A ciência da marreta feriu a política do aplicativo.

Porém, eu queria saber, por que a minha postagem tornou-se inconveniente para o aplicativo? Qual é o mal em postar uma foto assim? Ainda mais que a dita foto foi tirada quando fiz uma reforma aqui em casa e registrei o momento cheio de satisfação por ter conseguido realizar do modo como eu queria. Então, acho que rola certo preconceito nesse lance com a minha arte ou minha pessoa. Queria saber qual é?

Sim, porque eu trabalho com todo tipo de coisa. Comecei a trabalhar aos 12 anos e aprendi muito durante este tempo. Antigamente eu tentava postar contos policiais e de terror ou beats, mas devido ao comportamento do algoritmo do FB em relação a minha atitude, percebi que não era um conteúdo bem-vindo. Então, encerrei minha conta lá e nunca nem ao menos tentei postar este tipo de conteúdo no dito WhatsApp.

A partir deste instante, ando tentando compartilhar conteúdos mais neutros e mesmo assim continuo sendo barrado. Posso entender a restrição em relação ao conteúdo mais pesado ou polêmico, mas a restrição em analogia a um conto em que o trabalho de um pedreiro é o cerne da história e no qual não há nenhuma violência ou palavrão não cabe em minha cabeça.

Se eu conto sobre minha vivência atrelada à cultura indígena, sou barrado. Se escrevo sobre um livro meu, sou barrado. Se escrevo sobre o tempo em que fui estradeiro, sou barrado. Se escrevo a respeito do capitalismo selvagem, sou barrado. Se escrevo sobre o período em que vivi na favela, sou barrado. Se escrevo sobre o tempo em que morei no campo, sou barrado também. Enfim, queria entender que papo é esse de socialização? Mas que porra é essa? Por que ao que me parece, tem algo de errado com esse mundo. Só tem espaço para nichos, ostentações, Fake News, postagens com bebidas, essas coisas. Mas que merda é essa, minha gente? E mais, como pode um algoritmo ler uma pessoa de um modo tão torto e reduzido? Não é por nada que um dia ouvi a seguinte frase: “nunca tinha visto um índio branco, que ainda por cima é editor de livros”. Começo a achar que esta sociedade é um bagulho que deu errado e que não tem conserto.

Qual é o problema? Enfim, meu celular ficará desligado até segunda e quando eu ligar de novo é muito provável que eu desinstale o WhatsApp de meu computador e de meu celular. Como eu disse: quem é trabalhador não tem tempo a perder. Escrever é um trabalho como outro qualquer. Prefiro estar em espaços mais inteligentes, nos quais pessoas com vivências mais amplas, como eu, sejam recebidas da mesma maneira que as demais.

Acredite, eu trabalho com muita coisa e as únicas que não aprendi a fazer em minha vida são: vadiar, roubar e perder tempo. E agora, me despeço, pois tenho de lidar com meu minhocário e durante a tarde vou buscar matéria orgânica para abastecer as caixas e transformá-la em adubo. Se tudo der certo, neste final de semana, concluo a revisão de um livro que preciso entregar a um cliente até a próxima semana. E no mais, um grande abraço, sorte e luz, sempre!

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