Foi uma longa espera. Cheia de angústias e incertezas. Hoje, embora, ainda consciente de que estamos muito longe de podermos dizer que vencemos a pandemia de Covid-19, sinto-me um pouco mais aliviado. Ontem, fiz minha segunda dose da Oxford. Cheguei ao local da vacinação às 6h da manhã. Era o quinto colocado na fila. Às 8h06 estava no rumo de casa. Confesso que não sei descrever o que exatamente estava em meu coração. Porém, creio que posso dizer que ao menos sei que posso dar um passo na rua, seguindo todos os cuidados que a situação exige. Não sei como será meu primeiro banho de sol e nem ao menos sei quando o mesmo acontecerá. Só o que sei é que sinto falta das coisas mais simples que se pode imaginar. Acho que a sensação de poder reorganizar a minha vida dentro do contexto já é um tremendo alento. Em minha mente, tenho ideia de viver com alegria. Quero comigo somente o que cabe em meu coração. Não perderei nem mais um segundo de meu tempo com coisas que não merecem nem mesmo um pingo de vida. Deixarei morrer tudo que não invoca o amor e o respeito, a civilidade, a evolução. Afinal de contas, uma das coisas que aprendi durante a espera pela imunização, foi que ninguém pode agir no lugar do outro e me sinto pronto para viver como aprendi com Cora Coralina: sem carregar bagagens pesadas e desnecessárias.
O serviço começou com o enterro do contato. Quem entregou o dinheiro nunca voltou para casa. E o atirador deu um cuspe em cima da terra que usou para cobrir o corpo. Quem pagou não falou com ele. E quem foi fichado em sua caderneta não sonhou de noite. Uma bala. A cabeça de um lado. E o corpo do outro. Como sempre!