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O sujeito lírico

Recentemente andei fazendo uma pesquisa profunda a respeito do Eu que habita a literatura. É um assunto que me interessa desde que comecei a anotar minhas primeiras linhas. Queria entender o todo do processo. Compreende? E para resumir os dados que levantei: o Eu que habita aquele que escreve é o Eu dentro do enredo e não exatamente o Eu do homem em sua realidade. E como você pode ver ao ler esta crônica é muito fácil identificar qual destes Eus está no comando.

Contudo, para que não haja a menor dúvida: é óbvio que meu Eu real está na administração da situação. Escrever é meu trabalho. E aprender e pesquisar sobre literatura faz parte de meu dia. E por que afirmo de quem se trata ao escrever este texto diz respeito ao cerne de uma indagação que percorre minha mente.

O sujeito lírico é restrito ou limitado?

Em minha opinião o sujeito lírico não é limitado, ele tem uma única obrigação: ser fruto de um laboratório, de uma vivência, de um estudo que perfila o personagem em questão. A partir do momento em que o laboratório proporciona a real dimensão daquele que assume o papel de narrador, nada pode ser limitado. Afinal de contas, a realidade se impõe em todos os sentidos.

Eu tenho um sujeito lírico chamado Afobório, que em muitos casos assume outros Eus através de seus personagens. E você, internauta, qual é o Eu que você usa na rede ou na vida? Talvez, seja necessário estreitarmos a nossa relação com a leitura e com a nossa realidade para que a gente consiga ampliar a nossa percepção literária. Quando falo com profissionais da literatura a respeito de tal assunto, surge uma afirmação incômoda: quem não se reconhece na sua essência tem dificuldade de interpretação de textos. E quem não cultiva o hábito de ler, não está apto a informar-se ou mesmo entreter-se através da escrita.

É um tempo complicado. Afinal de contas, os homens das cavernas pintavam o seu dia através da arte rupestre e evoluíram até desenvolverem a escrita. Não é mole, fotografar uma laranja e não poder colocar a seguinte legenda: amo suco. Por que alguém vai comentar: qual suco você prefere? Como se a foto da laranja e a legenda não fossem suficientes para uma interpretação satisfatória.

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A arte me parece um jeito de resistir ao lado do conhecimento

Ler como quem procura janelas abertas para arejar o ambiente mental e físico. Creio que a filosofia da busca pelo equilíbrio enobrece as anotações. Vejo as plantas crescendo. A madeira sendo coberta pelo traço do pirógrafo e a tinta. A lenha queima na lareira ao tempo em que a rocha torna-se um baluarte encantador e próspero. É como se o segredo pudesse preservar o futuro e o sossego.

Fora do mundo

Sou um sujeito deslocado no mundo atual. Sou do tempo em que a gente ia até a casa dos amigos para falar com eles. Passei pela revolução do telefone em um tempo em que a gente ligava para falar com quem gostávamos. Depois chegaram os celulares e as mensagens de texto e era comum enviar algo do tipo, “como vai?”. As coisas foram mudando e chegamos ao ápice da tecnologia em que se pode comunicar facilmente com qualquer um através de várias formas. Porém, hoje em dia, não temos mais uma relação direta, estamos na era dos “contatos”. Quando penso um pouco sobre isso me dou conta de que no século XXI a vida do outro não tem valor e tal conceito se reafirma na pandemia de Covid-19. É bem verdade que tudo isso começou muito tempo atrás. Enfim, vejo a chegada do futuro e assisto ao crescimento da indiferença. Até por que, hoje em dia, quem fala sozinho não precisa ir ao psicólogo. A sociedade do cansaço é real. Não por nada, eu falo sobre interação e o mundo pensa em autoestima.

Sem tempo, sem atenção e sem futuro

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