O menino acordou e viu o carro
capotado. Estava em chamas. Olhava para os lados e não via ninguém. Nem seu pai
e nem sua mãe que estavam com ele. O fogo era tão alto que Miguel não podia se
aproximar do local do acidente. Olhava na direção da rodovia e não via nem
mesmo um automóvel na pista. O dia era frio. E, logo, começou a chover. Mas,
ele não se afastou do veículo até ver o final do fogo. Quando se aproximou,
constatou que era o único sobrevivente. Miguel, não sabia o que poderia ou
deveria fazer. Então, embrenhou-se na mata. Ficou um dia. Dois. Três. As semanas
passaram. Os meses passaram. Os anos passaram. E, Miguel, aprendeu a viver em
meio à floresta. Sentia-se parte da natureza e embora sentisse muita falta de
seus pais, não nutria a menor vontade de integrar-se novamente à vida
civilizada. Com paciência e dedicação, construiu um abrigo quente, seco e
forte. Aprendeu a viver do que a mãe terra lhe dava e sentia-se bem adaptado ao
mundo natural. Miguel sabia que havia perdido muito, mas, também, sabia que não
havia nada melhor para buscar ou ver para além da floresta que aprendeu a amar.
O serviço começou com o enterro do contato. Quem entregou o dinheiro nunca voltou para casa. E o atirador deu um cuspe em cima da terra que usou para cobrir o corpo. Quem pagou não falou com ele. E quem foi fichado em sua caderneta não sonhou de noite. Uma bala. A cabeça de um lado. E o corpo do outro. Como sempre!