De algum jeito, alguma coisa está
diferente. Sinto que vejo mais longe, mais fundo. E que meus calos me libertam.
Tenho cheiro de terra em minhas mãos e, também, das fragrâncias de jardim. Abençoado,
lavo minha alma em meio à natureza todo dia. Penso que voltei ao berço de meu
âmago para resgatar minha sabedoria de menino. Sinto que tenho algo bom que me apanha
por dentro. E não estou disposto, a perder nem mesmo um tantico das coisas boas
que vingaram em minha vida, assim, por descuido, debaixo, de um sol, tão quente.
Ando em dois mundos e agora estou distante da mata mais verde que já vi O vento castiga minha face e afaga um varal colorido que tremula Sinto que minha alma revive O cheiro do monóxido de carbono carimba meu pulmão E um pássaro canta no alto de uma árvore Contudo, sem asas, porém, também divino, um mano desconhecido corre o olho pelo trampo Sei que a calçada me abriga desde muito jovem Seja palavra Seja tinta Seja madeira Seja ferro, fogo ou brasa O que mais importa é ser Ser como se nasceu Honesto consigo e o mundo em nossa volta E ao tempo em que me sirvo da situação e anoto, estou em paz comigo mesmo Estou livre Estou participando da mudança Estou em casa Estou na rua Estou esparramando um tanto do que brota em meu coração E olhando o varal e coringando o pano, sei que ando em dois mundos Com os mesmos pés O mesmo espírito A mesma alma E a mesma satisfação de ser