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À porta do céu

À véspera do entardecer de um dia qualquer, meu corpo vaga, minha mente vaga e meu espírito vaga, em uma infinita caminhada à procura de tudo e de nada

Lembro-me de espantar-me com uma visão bucólica em tal dia ensolarado, ao tempo em que a relva doce e desconhecida e extraordinária me apanha e me arrebata de fora para dentro e de dentro para fora

Sinto o cheiro da terra, que fora transformada em poeira, por conta de um vento indolente e que tornara-se redemoinho, em meio a estrada recoberta pelas folhas da mata que me rodeia

Ao mirar adiante, percebo a leve e longa elevação do terreno, que me conduz a um ponto um tanto quanto mais alto e que culmina em um alvo infinito a imortalizar, em um único instante, um beijo doce e terno entre o céu e a terra e que desvenda-se diante de meu ser como se os dois fossem feitos um para o outro

Alegro-me com tamanha benção e tomo a decisão de esticar a lona bem ao alcance do abraço de um grande Angico, que me proporciona um pouso seguro e sereno e me acolhe sob seus galhos adornados pelos pássaros e seus cantos e que ali vivem seu mais recente segundo, assim como eu, e, sinto-me reconfortado diante de um abandono que há muitos anos deixou de ser dor e ganhou a oportunidade de ressoar nas linhas de um caderno velho e tingido de suor, sonho e terra

Por fim, meus bolsos vazios, meu coração e mochila cheios e meu cantil pela metade, dão-me a razão e a loucura daquele que alcança a mais profunda iluminação

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