Ateio fogo em uma vela, que ilumina a recente
penumbra e vejo tons amarelados, resplandecentes e aureados de minha pobre e
bela alma, os quais, surgem em meio ao silêncio de meus devaneios
Anoto o que vejo e sinto como quem reza para o
sem fim de seu próprio âmago, em meio à loucura da insana liberdade, ao modo de
quem se recusa a tornar-se parte de um suplício sem fim, que transforma homens
em cães adestrados a correrem atrás do próprio rabo em busca de um futuro
conforto chamado sonho gentil e que depois de carcomer espíritos — ainda livres
— os transforma em nada mais do que carcaças de ratos secos e mortos e
esquecidos
Insurgente, faço versos e preencho linhas de
um caderno que carrego em meu bolso, muito bem acomodado sobre o peito e que
soterra meu coração ao tempo em que dou vida à minha alma tão estranha ao
escravagismo moderno deste mundo manipulado que não me alcança
Sou infame
Sou poeta
Sou palavra e blasfêmia
Sou o fim do calvário e o raio simples e puro
de uma única vela para um verso que me soa como uma confissão