Observei o alvo durante uma semana.
Saber esperar é uma grande virtude. Eu fumava um palheiro e mantinha o rifle em
posição para que pudesse acompanhar a situação de perto. A distância que tinha
era de 682 m. Lá pelas tantas, o encomendado apareceu. O vento estava como
devia. E avaliando a distância e todos os elementos possíveis, sabia que o
momento era favorável. Respirei fundo e não me apressei. Notei que havia
movimento nos fundos da casa. Não demorou e a caminhonete saiu lotada de gente.
Por garantia, observei, com muita atenção, o semblante de cada um dos que
estavam no veículo. O confiado estava sozinho. Fiquei ali, contando os
instantes. E, quando o instinto me disse que era chegada a hora, firmei a mira
bem no meio do pescoço. Na altura do gogó, como se diz. Foi um tiro certeiro. No
compasso de meu coração. A cabeça de um lado, o corpo do outro, como sempre.
Guardei o rifle na encilha e montei. Em pouco mais de duas horas estava sumido,
feito um fiapo de fumaça.
O serviço começou com o enterro do contato. Quem entregou o dinheiro nunca voltou para casa. E o atirador deu um cuspe em cima da terra que usou para cobrir o corpo. Quem pagou não falou com ele. E quem foi fichado em sua caderneta não sonhou de noite. Uma bala. A cabeça de um lado. E o corpo do outro. Como sempre!