Observei o alvo durante uma semana.
Saber esperar é uma grande virtude. Eu fumava um palheiro e mantinha o rifle em
posição para que pudesse acompanhar a situação de perto. A distância que tinha
era de 682 m. Lá pelas tantas, o encomendado apareceu. O vento estava como
devia. E avaliando a distância e todos os elementos possíveis, sabia que o
momento era favorável. Respirei fundo e não me apressei. Notei que havia
movimento nos fundos da casa. Não demorou e a caminhonete saiu lotada de gente.
Por garantia, observei, com muita atenção, o semblante de cada um dos que
estavam no veículo. O confiado estava sozinho. Fiquei ali, contando os
instantes. E, quando o instinto me disse que era chegada a hora, firmei a mira
bem no meio do pescoço. Na altura do gogó, como se diz. Foi um tiro certeiro. No
compasso de meu coração. A cabeça de um lado, o corpo do outro, como sempre.
Guardei o rifle na encilha e montei. Em pouco mais de duas horas estava sumido,
feito um fiapo de fumaça.
Saio para levar o lixo até o contêiner. O tempo está carregado e vem mais chuva e mais desgraça e isso está me atormentando. Tem um vento frio que se parece com o que sopra no inverno. Alguns pássaros cantam ao tempo em que motoristas afoitos buzinam e gesticulam uns para os outros sempre que dois ou três carros se encontram em uma esquina. Logo vejo dois cães que me cercam e começam a latir. São os mesmos de todos os dias. Agora, manter os próprios cachorros na rua como se estivessem em área privada é o novo normal. Aliás, não aguento mais essa teoria de o novo normal para tudo, como se o mundo houvesse virado de cabeça para baixo. Em pouco tempo escuto rosnadas, olho firme para um deles e digo em alto e bom som: se tu te bobear vou ter de te chamar na pedra. O cão pressente que existe algo de diabólico comigo e hesita. Largo o lixo para dentro do contêiner e em dois segundos tenho quatro pedras em minhas mãos. O canino, incrédulo, ainda me olha e eu olho para ele. Lá pelas tantas v...