Quando penso em músicos
brasileiros o nome de Milton Nascimento é um dos primeiros que surgem em minha
mente. Associo suas canções à poesia da melhor qualidade. E sinto como se a
melodia inundasse minha alma. Em minha visão, existe uma docilidade em suas
canções que emocionam de um jeito diferente. Sinto-me tocado de uma maneira
revolucionária e terna que não tenho como explicar da maneira como gostaria.
Vejo que suas palavras passam por estações da minha vida e reavivam sentimentos
que nem sempre lembro que estão aqui. Acho que Milton é a voz que vem do
coração, como ele mesmo musicou e cantou.
Saio para levar o lixo até o contêiner. O tempo está carregado e vem mais chuva e mais desgraça e isso está me atormentando. Tem um vento frio que se parece com o que sopra no inverno. Alguns pássaros cantam ao tempo em que motoristas afoitos buzinam e gesticulam uns para os outros sempre que dois ou três carros se encontram em uma esquina. Logo vejo dois cães que me cercam e começam a latir. São os mesmos de todos os dias. Agora, manter os próprios cachorros na rua como se estivessem em área privada é o novo normal. Aliás, não aguento mais essa teoria de o novo normal para tudo, como se o mundo houvesse virado de cabeça para baixo. Em pouco tempo escuto rosnadas, olho firme para um deles e digo em alto e bom som: se tu te bobear vou ter de te chamar na pedra. O cão pressente que existe algo de diabólico comigo e hesita. Largo o lixo para dentro do contêiner e em dois segundos tenho quatro pedras em minhas mãos. O canino, incrédulo, ainda me olha e eu olho para ele. Lá pelas tantas v...