Quando penso em músicos
brasileiros o nome de Milton Nascimento é um dos primeiros que surgem em minha
mente. Associo suas canções à poesia da melhor qualidade. E sinto como se a
melodia inundasse minha alma. Em minha visão, existe uma docilidade em suas
canções que emocionam de um jeito diferente. Sinto-me tocado de uma maneira
revolucionária e terna que não tenho como explicar da maneira como gostaria.
Vejo que suas palavras passam por estações da minha vida e reavivam sentimentos
que nem sempre lembro que estão aqui. Acho que Milton é a voz que vem do
coração, como ele mesmo musicou e cantou.
Ando em dois mundos e agora estou distante da mata mais verde que já vi O vento castiga minha face e afaga um varal colorido que tremula Sinto que minha alma revive O cheiro do monóxido de carbono carimba meu pulmão E um pássaro canta no alto de uma árvore Contudo, sem asas, porém, também divino, um mano desconhecido corre o olho pelo trampo Sei que a calçada me abriga desde muito jovem Seja palavra Seja tinta Seja madeira Seja ferro, fogo ou brasa O que mais importa é ser Ser como se nasceu Honesto consigo e o mundo em nossa volta E ao tempo em que me sirvo da situação e anoto, estou em paz comigo mesmo Estou livre Estou participando da mudança Estou em casa Estou na rua Estou esparramando um tanto do que brota em meu coração E olhando o varal e coringando o pano, sei que ando em dois mundos Com os mesmos pés O mesmo espírito A mesma alma E a mesma satisfação de ser