Creio que tal estilo musical colabora para que eu encontre as
palavras de maneira mais assertiva. Durante o outono, passo boa parte de meu
dia em meu laboratório. Chapo um fone em meus ouvidos e deixo que a melodia
conduza meus dedos. Acho que com o tempo tudo ganha um significado maior. Talvez,
por conta do momento, que não volta, tenho ideia de aproveitar meus dias como
se cada um deles fosse meu último. Hoje, em especial, saboreio um café e um
tanto de Chopin, ao instante em que me surpreendo voando pela melodia, enquanto
que o cursor corre como um cavalo alado sobre uma imensa planície e tem seu
próprio time. Em torpor, respiro
fundo, guardo o que devo e sigo com o que experimento em busca de mais uma
crônica. E o que sei que craveja meu sentir aqui e agora é a mais bela harmonia
que o dia de hoje poderia me dar.
Ando em dois mundos e agora estou distante da mata mais verde que já vi O vento castiga minha face e afaga um varal colorido que tremula Sinto que minha alma revive O cheiro do monóxido de carbono carimba meu pulmão E um pássaro canta no alto de uma árvore Contudo, sem asas, porém, também divino, um mano desconhecido corre o olho pelo trampo Sei que a calçada me abriga desde muito jovem Seja palavra Seja tinta Seja madeira Seja ferro, fogo ou brasa O que mais importa é ser Ser como se nasceu Honesto consigo e o mundo em nossa volta E ao tempo em que me sirvo da situação e anoto, estou em paz comigo mesmo Estou livre Estou participando da mudança Estou em casa Estou na rua Estou esparramando um tanto do que brota em meu coração E olhando o varal e coringando o pano, sei que ando em dois mundos Com os mesmos pés O mesmo espírito A mesma alma E a mesma satisfação de ser