Creio que tal estilo musical colabora para que eu encontre as
palavras de maneira mais assertiva. Durante o outono, passo boa parte de meu
dia em meu laboratório. Chapo um fone em meus ouvidos e deixo que a melodia
conduza meus dedos. Acho que com o tempo tudo ganha um significado maior. Talvez,
por conta do momento, que não volta, tenho ideia de aproveitar meus dias como
se cada um deles fosse meu último. Hoje, em especial, saboreio um café e um
tanto de Chopin, ao instante em que me surpreendo voando pela melodia, enquanto
que o cursor corre como um cavalo alado sobre uma imensa planície e tem seu
próprio time. Em torpor, respiro
fundo, guardo o que devo e sigo com o que experimento em busca de mais uma
crônica. E o que sei que craveja meu sentir aqui e agora é a mais bela harmonia
que o dia de hoje poderia me dar.
O serviço começou com o enterro do contato. Quem entregou o dinheiro nunca voltou para casa. E o atirador deu um cuspe em cima da terra que usou para cobrir o corpo. Quem pagou não falou com ele. E quem foi fichado em sua caderneta não sonhou de noite. Uma bala. A cabeça de um lado. E o corpo do outro. Como sempre!