Estou pensando aqui com meus
botões. Ler é um ato de revolução do mesmo modo que escrever também é. Um completa
o outro. A literatura dá luz ao que faz parte dos dramas humanos. Nenhuma inspiração
pode ser maior do que a vida. Acho que em muitos casos a literatura soa
intimidadora porque remexe nas entranhas de quem escreve e de quem lê
igualmente. Aprendi com Dostoiévski que não precisamos enfrentar todos os
nossos monstros de uma só vez. Porém, ler e escrever são hábitos que me cativam
desde sempre e me fizeram mais forte. Mergulho nos textos e me sinto
confortável enquanto penso em tais demônios. Vejo a estética que a literatura
compartilha ao transformar vida em arte como sendo algo primordial para nosso
crescimento pessoal e social. E numa hora destas também penso no velho Bukowski
quando disse que a gente deve encontrar o que amamos e deixar que isso nos
mate. Sei que a literatura me ganhou ainda jovem e me deu o mundo e a vida para
conhecer. Agradeço por isto todos os dias. E quando lembro daquele menino esquelético
e solitário sentado sobre o tronco de uma árvore, lendo ao sol em um dia de
inverno, só consigo pensar em salvação.
Ando em dois mundos e agora estou distante da mata mais verde que já vi O vento castiga minha face e afaga um varal colorido que tremula Sinto que minha alma revive O cheiro do monóxido de carbono carimba meu pulmão E um pássaro canta no alto de uma árvore Contudo, sem asas, porém, também divino, um mano desconhecido corre o olho pelo trampo Sei que a calçada me abriga desde muito jovem Seja palavra Seja tinta Seja madeira Seja ferro, fogo ou brasa O que mais importa é ser Ser como se nasceu Honesto consigo e o mundo em nossa volta E ao tempo em que me sirvo da situação e anoto, estou em paz comigo mesmo Estou livre Estou participando da mudança Estou em casa Estou na rua Estou esparramando um tanto do que brota em meu coração E olhando o varal e coringando o pano, sei que ando em dois mundos Com os mesmos pés O mesmo espírito A mesma alma E a mesma satisfação de ser