Estava
limpando meus livros quando me deparei com uma obra fantástica: O Livro dos
Abraços de Eduardo Galeano. Uma de minhas leituras favoritas. É uma edição da
L&PM de 1997 que carrego dentro de minha mochila. Gosto de ler pequenos
trechos sempre que tenho um tempo e desde que comprei este livro nunca me
separei dele. É uma obra que fala de sonhos e memórias. E que se apresenta dividida
em pequenas passagens. Vejo este livro como uma obra que fala da América Latina
e seu povo. Acho que é uma leitura com capacidade para mexer com os sentimentos
de qualquer um. E como sou um rapaz latino-americano sem dinheiro no bolso como
cantou Belchior me identifico muito com as passagens que compõem tal livro. O Galeano
chega ao meu coração com maestria em tal obra. E certamente é uma das leituras
mais aconchegantes que já experimentei. Quando penso em literatura feita na América
Latina o nome de Galeano é um dos primeiros que ocupa minha mente. E o Livro
dos Abraços aviva-se automaticamente em minha memória e minha alma.
Saio para levar o lixo até o contêiner. O tempo está carregado e vem mais chuva e mais desgraça e isso está me atormentando. Tem um vento frio que se parece com o que sopra no inverno. Alguns pássaros cantam ao tempo em que motoristas afoitos buzinam e gesticulam uns para os outros sempre que dois ou três carros se encontram em uma esquina. Logo vejo dois cães que me cercam e começam a latir. São os mesmos de todos os dias. Agora, manter os próprios cachorros na rua como se estivessem em área privada é o novo normal. Aliás, não aguento mais essa teoria de o novo normal para tudo, como se o mundo houvesse virado de cabeça para baixo. Em pouco tempo escuto rosnadas, olho firme para um deles e digo em alto e bom som: se tu te bobear vou ter de te chamar na pedra. O cão pressente que existe algo de diabólico comigo e hesita. Largo o lixo para dentro do contêiner e em dois segundos tenho quatro pedras em minhas mãos. O canino, incrédulo, ainda me olha e eu olho para ele. Lá pelas tantas v...