Vi o
sinal de chuva no horizonte. Era um bom lugar para acampar e minha mochila
estava lotada de mantimentos. Estiquei a lona. Fiz fogo. Enchi um caneco com
água que colhi em um córrego intocado. Pendurei a rede e deitei. Havia um
pássaro que cantava no alto de uma paineira. Senti como se minha presença fosse
abençoada pela inteligência natural. Quando a água esquentou aproveitei para
fazer um café. Bolei um cigarro de palha e fiquei olhando a chegada da chuva. Os
pingos na lona pareciam música para meus ouvidos. Eu me sentia parte do
ecossistema que me rodeava. A minha mente estava em paz. E o meu coração
sossegado. Eu nunca tenho pressa. Afinal de contas, minha lona é minha casa. E o
mundo é um lugar imenso e cheio de lugares especiais para que a gente possa
repousar e renovar a alma.
O serviço começou com o enterro do contato. Quem entregou o dinheiro nunca voltou para casa. E o atirador deu um cuspe em cima da terra que usou para cobrir o corpo. Quem pagou não falou com ele. E quem foi fichado em sua caderneta não sonhou de noite. Uma bala. A cabeça de um lado. E o corpo do outro. Como sempre!