Ando com meus pensamentos. Regando as
plantas. Desenhando. Limpando os livros e os restaurando com paciência. Sinto um
ar filosófico em meu entorno. Acho que algo bom me mantém a salvo das loucuras
mundanas. Como se meu corpo, meu espírito e minha mente estivessem
estabilizados sobre uma rocha que abarca muitos saberes. É um tempo de retiro. Um
espaço que aprendi a cultivar como quem busca viver o dia com felicidade e deseja
aprender algo novo sempre que possível. Mantenho-me confiante na estrada que se
apresenta diante de meus objetivos. Não estendo minhas escolhas ao todo. E por
conta de tal liberdade tomo a minha em mãos. Faço como sinto. E sigo meu
caminho ao tempo em que me amparo em uma intuição que me é latente e
confortável em relação ao meu modo de vida liberto e avesso ao status quo.
Saio para levar o lixo até o contêiner. O tempo está carregado e vem mais chuva e mais desgraça e isso está me atormentando. Tem um vento frio que se parece com o que sopra no inverno. Alguns pássaros cantam ao tempo em que motoristas afoitos buzinam e gesticulam uns para os outros sempre que dois ou três carros se encontram em uma esquina. Logo vejo dois cães que me cercam e começam a latir. São os mesmos de todos os dias. Agora, manter os próprios cachorros na rua como se estivessem em área privada é o novo normal. Aliás, não aguento mais essa teoria de o novo normal para tudo, como se o mundo houvesse virado de cabeça para baixo. Em pouco tempo escuto rosnadas, olho firme para um deles e digo em alto e bom som: se tu te bobear vou ter de te chamar na pedra. O cão pressente que existe algo de diabólico comigo e hesita. Largo o lixo para dentro do contêiner e em dois segundos tenho quatro pedras em minhas mãos. O canino, incrédulo, ainda me olha e eu olho para ele. Lá pelas tantas v...