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Caiu uma chuva pesada esta noite

Sinto cheiro de terra molhada misturado com fuligem. Está quente e úmido. Parece que a casa é uma panela de pressão cozinhando feijão. Abro todas as janelas na esperança de que o ar refrigere tudo, até minha alma. Tomo um gole de água bem gelada e sinto um pouco de vento frio correr pela casa e me sinto agraciado por um milagre. As nuvens estão carregadas e prometem mais chuva. Hoje não tem mangueio, penso. Olho para as madeiras gradeadas na oficina e sei que não tenho como pirogravar mais nada porque estou com a sala de pintura lotada de peças. Apanho uma xícara com café e ligo o computador. Me sirvo de um careta e abro a porta da oficina para que o ar circule. Ao tempo em que o sabor do café se mistura ao tabaco acompanho um homem magro e alto que sobe a lomba ao lado de seu cachorro. Os dois andam com paciência. Nada pode separá-los, nem os carros apressados que voam como se fossem aviões. Penso um pouco sobre a cena que vejo e tenho a mais absoluta certeza de que os dois não estão sozinhos. Em pouco tempo meu café e meu careta chegam ao fim. Fecho a porta da oficina e me sento diante do computador. Afinal de contas, os dias não são iguais. E entendo que hoje é um bom dia para escrever.

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Território fértil e livre

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