Crescer,
no sentido de evoluir pessoalmente, é uma tarefa árdua. Porém, é uma decisão
sábia. Portanto, creio que seja possível, durante esta crônica, utilizar o
conceito de que nos parecemos com um pedaço de madeira bruta, o qual depois do
entalhe torna-se a mais pura arte. Claro que afirmo tal condição tendo em mente
que a arte nasce pelas mãos humanas. Enfim, estabelecido o conceito, o
paradigma e o assunto, penso que posso avançar com minhas considerações tendo
em vista o contexto estabelecido como sendo o norte deste texto. Assim sendo,
escrevo como quem costuma passar boas horas de seu dia conversando com os veios
da madeira que entalho e pirografo. E ao tempo em que busco suavizar as formas e
as linhas e os contornos dou-me conta de que também aperfeiçoo meu ser. Sinto como
se o formão aparasse minhas rugosidades ao instante em que o pirógrafo queima
todo e qualquer resquício que me impeça de evoluir em direção ao
aperfeiçoamento. Entre um café e outro: observo o resultado e me sinto como
quem busca um caminho evolutivo confortavelmente proveitoso. Sou o filho do
aço, a veia da árvore e o calor do amor pela arte que sempre me arrebatou e que
me mantém como aquele menino que investia suas forças em caminhos que para
muitos são designados como sendo impossíveis. Agradeço por isso e quando chego
ao final de mais um dia de trabalho consigo recostar minha carcaça em minha
poltrona e sorrir, tal qual o menino que jamais abandonarei mesmo que os anos
passem e minhas feições exteriores não sejam as mesmas.
Saio para levar o lixo até o contêiner. O tempo está carregado e vem mais chuva e mais desgraça e isso está me atormentando. Tem um vento frio que se parece com o que sopra no inverno. Alguns pássaros cantam ao tempo em que motoristas afoitos buzinam e gesticulam uns para os outros sempre que dois ou três carros se encontram em uma esquina. Logo vejo dois cães que me cercam e começam a latir. São os mesmos de todos os dias. Agora, manter os próprios cachorros na rua como se estivessem em área privada é o novo normal. Aliás, não aguento mais essa teoria de o novo normal para tudo, como se o mundo houvesse virado de cabeça para baixo. Em pouco tempo escuto rosnadas, olho firme para um deles e digo em alto e bom som: se tu te bobear vou ter de te chamar na pedra. O cão pressente que existe algo de diabólico comigo e hesita. Largo o lixo para dentro do contêiner e em dois segundos tenho quatro pedras em minhas mãos. O canino, incrédulo, ainda me olha e eu olho para ele. Lá pelas tantas v...