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Mostrando postagens de junho, 2023

A literatura e a estética de nossos demônios

Estou pensando aqui com meus botões. Ler é um ato de revolução do mesmo modo que escrever também é. Um completa o outro. A literatura dá luz ao que faz parte dos dramas humanos. Nenhuma inspiração pode ser maior do que a vida. Acho que em muitos casos a literatura soa intimidadora porque remexe nas entranhas de quem escreve e de quem lê igualmente. Aprendi com Dostoiévski que não precisamos enfrentar todos os nossos monstros de uma só vez. Porém, ler e escrever são hábitos que me cativam desde sempre e me fizeram mais forte. Mergulho nos textos e me sinto confortável enquanto penso em tais demônios. Vejo a estética que a literatura compartilha ao transformar vida em arte como sendo algo primordial para nosso crescimento pessoal e social. E numa hora destas também penso no velho Bukowski quando disse que a gente deve encontrar o que amamos e deixar que isso nos mate. Sei que a literatura me ganhou ainda jovem e me deu o mundo e a vida para conhecer. Agradeço por isto todos os dias. E qu

Sobre o ato de escrever

Uma tarefa solitária. Independente do gênero e do objetivo do texto. Normalmente, não se esgota um assunto em uma única abordagem, apenas explanamos uma visão dentro de um recorte e enredo. Tanto que mesmo depois de tantos anos escrevendo, ainda participo de sessões textuais com o objetivo de refinar tais composições. Faço parte de um grupo hermético de cunho alquímico há muitos anos e sempre que nos reunimos falamos de tudo que compreende tal campo. A arte e a natureza são assuntos recorrentes. É uma maneira de cultivarmos as nossas habilidades. Creio que leituras críticas embasadas e saudáveis são essenciais para nosso crescimento em uma área tão complexa quanto o ato de escrever. Sempre que releio Arthur Schopenhauer me pego a pensar sobre tal assunto. Tanto que em nosso último encontro falamos a respeito da obra, A Arte de Escrever, que apanha tal tema com maestria. Acho que a necessidade de amadurecer o texto é essencial e, atualmente, o imediatismo acaba nos consumindo quando se

Uma prosa natural

O caminho é sempre longo. O broto se torna um galho quando lignifica. A planta adoece com facilidade quando a raiz é cortada. E a estaca não tem raiz quando feita. A folha renasce menor quando o galho é desfolhado. O tronco aumenta de tamanho quando os ramos crescem porque a raiz é forte. A muda de bonsai é uma árvore preparada para viver em uma bandeja. O pré-bonsai é uma muda com 5 anos de cultivo. O bonsai se torna harmonioso quando tem mais de 10 anos. O metabolismo da planta é controlado quando a raiz ocupa 80% da bandeja. As intervenções são anuais. A recuperação da árvore é de 1 ano. São necessárias 4 podas para selecionar os galhos. As plantas consomem apenas matéria orgânica em seu habitat. A inteligência natural não é capitalista. A vida é um ponto de equilíbrio construído naturalmente. Por isso temos de ter em mente que o cultivo de plantas está sob a regência da natureza. Existem muitas receitas para o mesmo fim. Prefiro o caminho mais natural possível porque busco [em minh

Cultivando paciência

Nesta crônica falarei um pouco sobre uma grande jornada de minha vida. O cultivo da paciência. Tudo começou quando senti vontade de comprar um bonsai. Procurei em muitos lugares. Não havia uma loja especializada no segmento. Lembro de comprar mudas de bonsai em diferentes lugares. As plantas chegavam e morriam em pouco tempo. Comecei a identificar alguns problemas. Então construí um minhocário. Levei quase cinco anos para conseguir o nível que precisava. Passei a procurar plantas em quintais. Parei de me preocupar com um monte de bobagens. Fiz o essencial. Dar água. Adubar e fazer uma redução no tamanho da planta a cada brotação e consegui equilibrar o metabolismo do bonsai. Deu certo. Descobri o cultivo da paciência. Me divido entre o sebo, o meu minhocário que também é um viveiro e os escritos. Tudo faz sentido agora. A paciência chegou em minha vida. Sou uma pessoa melhor e muito mais feliz. Acabei descobrindo que o tempo é meu amigo.

Chegou uma obra formidável aqui no sebo

É uma edição de 2014 que está zerada. Então, tive uma ideia. Vou customizar uma capa para este livro. Acho que vale a pena. Estou falando da obra Memórias póstumas de Brás Cubas .   [Esse lance de customizar é um bagulho doido que depois que a gente começa fazer vira mania. Acho que é algo diferente aos olhos do leitor. Muitos perguntam como tive a ideia de imortalizar grandes obras literárias. Então eu digo que tem gente que customiza carros e que eu imortalizo livros e depois eu tento rir de uma maneira sarcástica. E a minha resposta costuma funcionar e arrancar sorrisos. Acho que o projeto vai ficar muito legal. Além de tudo, é uma oportunidade para mostrar um pouco mais do meu trampo. E depois, eu sempre busco demonstrar algum diferencial em meu trabalho para que bons livros cheguem até as mãos das pessoas. Portanto, sinto a necessidade em dizer que o Mammalia tem a visão de imortalizar grandes obras da literatura e agregar valor através de uma segunda capa que envolve o livro

Uma rosa feita de tijolos

Estou relendo o magnífico livro Flores de Alvenaria do Sérgio Vaz. De tempos em tempos eu faço estas coisas. Tenho costume de reler livros que tocaram meu coração e minha alma. Faço isto para renovar-me por dentro e por fora. O que posso dizer é que uma obra como esta, que seguro em minhas mãos, dá um alento do caralho. Pois é, sou destes que de tempos em tempos sente a necessidade de voltar pra base, como disse o Mano Brown. Sempre que olho em volta e percebo que andei um bom tanto pelas alamedas eu costumo parar de andar para me certificar de que não me afastei de alguns ideais que acho indispensáveis para o meu progresso. Acho que a imagem de capa da edição que tenho desta obra aviva minha mente e meu coração. Afinal de contas, uma rosa feita de tijolos representa muito do que vivi e muito do que desejo para o futuro. É aquela célebre frase da qual nunca vou esquecer: “minha poesia vem das ruas que os anjos não costumam frequentar”. Saber deste tipo de coisa é sempre muito importan

Esbarrei no soldado Ryan

O domingo foi louco. Os cachorros latiam sem parar ao tempo em que motos voavam pela rua e zuniam em nossos ouvidos. Fiz o melhor que pude para acalmar meus irmãos peludos; mas, como disse: foi um dia louco e quando a tardinha chegou eu precisava de um bom banho. A água quente aqueceu minha carcaça velha e tão logo sentei no sofá e liguei a TV esbarrei no soldado Ryan. Fiquei me perguntando sobre o que se pode dizer para uma mãe que perde todos os seus filhos em uma guerra? — enquanto assistia ao grupo de soldados em busca de Ryan, o único filho ainda vivo, também me perguntei — o que se pode dizer para uma mãe que perdeu um filho na guerra? A perseverança leva o grupo de busca até o soldado Ryan e o encontra na cabeceira de uma ponte. Ele e seus colegas de batalhão esperavam por reforços e além de pouco armamento, também estavam com pouca munição. Quando Ryan é informado de que todos os seus irmãos haviam morrido em combate e que as ordens eram para que ele seguisse para casa, o mesmo

Uma quinta-feira com cara de domingo

É uma quinta-feira de outono. Aproveito um chá de erva-mate e trabalho na restauração de alguns livros. Enquanto meus dedos tateiam o papel, penso em como a vida em contato com a arte pode ser valiosa. Ao tempo em que trato das obras, percebo que cuido de meu próprio eu. Não tenho pressa. É uma ocupação meticulosa. O dia está calmo, com cara de domingo. Tenho trabalho de sobra para os próximos meses. A última compra está recheada com grandes títulos. Estou tentando fazer o melhor trabalho que posso e consigo perceber minha evolução ao longo dos anos. Comecei a me interessar pela restauração de obras literárias ainda nos primeiros anos de colégio. Quando a gente tinha de usar os livros emprestados pela biblioteca da escola e muitos deles precisavam de cuidados devido ao seu uso de longa data. Lembro de encapá-los e limpá-los com afinco. Eu sempre amei livros. Assim como sempre amei ler e escrever. E foi este entusiasmo de menino que um dia me levou para o meio da rua com uma lona cobert